Consulta pré-concepcional
Introdução
O período pré-concecional refere-se ao tempo antes da gravidez. É sabido que o estado de saúde de ambos os pais no momento da conceção, isto é, da formação da gravidez, pode influenciar significativamente o desenvolvimento e o bem-estar do feto.
Os cuidados nesse período pré-concecional abrangem uma série de intervenções, incluindo promoção da saúde e avaliação de riscos. Os problemas da criança ao nascer abrangem muitas condições que podem ter consequências ao longo da vida para os indivíduos e para as suas famílias. Esses problemas podem manifestar-se como alterações físicas, mentais ou do desenvolvimento e podem alterar significativamente o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos afetados.
O período pré-concecional pretende capacitar os indivíduos para a tomada de decisões e adoção de comportamentos que visam a sua saúde geral, aumentando as probabilidades de uma gravidez e um filho saudáveis.
Outro componente crucial dos cuidados pré-concecionais é o rastreio e tratamento de doenças pré-existentes. A mulher será avaliada quanto à possibilidade de existência de doenças como diabetes, hipertensão ou doenças infeciosas. Se existentes, serão implementadas estratégias adequadas para otimizar a sua saúde antes da gravidez. Algumas intervenções podem demorar meses para alcançar o resultado desejado. Assim, abordar estas questões regularmente pode minimizar riscos potenciais para a futura grávida e feto.
Os três principais objetivos da avaliação pré-concecional são:
- Identificar riscos potenciais para a mãe, feto e gravidez.
- Explicar o que significam esses riscos e como evitá-los, resolvê-los ou minimizá-los e, em última instância, alternativas reprodutivas, nomeadamente técnicas de reprodução medicamente assistidas.
- Medidas para potenciar uma gravidez saudável. As intervenções incluem aconselhamento, otimização de doenças e encaminhamento para cuidados médicos de especialidade.
Planear o intervalo de tempo ideal entre gestações pode ser útil para reduzir complicações. As mulheres são aconselhadas a evitar intervalos entre gravidezes inferiores a 6 meses e esclarecidas sobre os riscos de uma nova gravidez antes dos 18 meses, nomeadamente risco de parto prematuro ou recém-nascido com baixo peso ao nascimento.
A consulta pré-concecional deve ser realizada antes da suspensão da contraceção. Será programada uma consulta subsequente para avaliação dos resultados dos exames realizados e das intervenções propostas.
Prevenção / Recomendações
Algumas intervenções demonstraram reduzir a ocorrência de anomalias congénitas, alterações do crescimento fetal e complicações maternas na gravidez:
Suplementação com ácido fólico.
É recomendada pela Organização Mundial de Saúde a suplementação com ácido fólico a todas as mulheres que pretendam engravidar com início mínimo de 3 meses antes da conceção até 12 semanas de gravidez, para proteção contra defeitos do tubo neural (doença potencialmente grave do sistema nervoso).
- Otimizar doenças como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, autoimunes, renais ou tiroideias, epilepsia e asma.
Estas doenças têm o potencial de agravar durante a gravidez, no decurso das mudanças do organismo materno necessárias para o crescimento do feto. Atingir o melhor controlo possível da patologia antes da gravidez ajuda ainda a diminuir o risco de problemas no recém-nascido. Medicamentos teratogénicos são medicamentos conhecidos por potencialmente provocarem malformações fetais e devem ser interrompidos ou modificados para uma alternativa mais segura. Até ser avaliada em relação à segurança da sua medicação habitual para uma gravidez, a mulher em idade fértil deve manter uma contraceção eficaz.
- Uso de substâncias tóxicas e psicoativas incluindo produtos com nicotina, tetrahidrocanabinol (THC), álcool, opioides e medicamentos não prescritos.
Os efeitos adversos associados ao tabagismo durante a gravidez incluem restrição de crescimento fetal, placenta prévia, descolamento prematuro da placenta, diminuição da função tiroideia materna, baixo peso ao nascimento. Crianças nascidas de mulheres que fumam durante a gravidez correm maior risco de asma e obesidade infantil. Este risco é proporcional ao consumo diário de tabaco. Em relação ao consumo de álcool, nenhuma quantidade ou tipo de álcool é seguro durante a gravidez. O álcool atravessa a placenta, o que significa que o nível de álcool no sangue do feto será semelhante aos níveis de álcool no sangue materno poucos minutos após o seu consumo. A marijuana é usada por cerca de 2 a 5% das mulheres grávidas. O seu efeito durante a gravidez pode ser tão prejudicial quanto o do tabaco.
- Atualização do calendário vacinal.
Certas vacinas não devem ser administradas durante a gravidez, sendo o período pré-concecional o momento ideal para a administração de vacinas em falta.
- Redução ou ganho de peso.
Está recomendada uma dieta saudável durante a gravidez, rica em grãos e vegetais. Os riscos associados à obesidade incluem infertilidade, aborto espontâneo, defeitos congénitos, parto prematuro, diabetes gestacional, hipertensão gestacional e eventos tromboembólicos. Por outro lado, grávidas com baixo peso correm o risco de ter fetos com crescimento inferior ao esperado para a idade gestacional e baixo peso ao nascimento O consumo moderado de café (inferior a 200 mg por dia) parece ser seguro na gravidez e pré-conceção.
- O aconselhamento pré-concecional em relação a infeções é importante.
Em primeiro lugar, qualquer mulher com uma doença infeciosa deve ser tratada para eliminar ou minimizar o risco de transmissão ao recém-nascido, como é o caso do VIH, da hepatite B e da sífilis. Em segundo lugar, as grávidas estão mais suscetíveis a certas infeções durante a gravidez. Estas podem estar associadas a maior morbilidade e mortalidade para a mãe ou para o recém-nascido, fruto de alterações no sistema imunitário, coração e pulmões da mulher grávida. Este é o caso da gripe, rubéola, toxoplasmose, zika e listeria. O esclarecimento sobre mudanças no estilo de vida e alimentos a serem eliminados durante a gravidez são essenciais para prevenir essas infeções.
- Atividade física.
Está recomendada a prática de exercício físico por um período mínimo de 30 minutos por dia, 5 dias por semana, com um mínimo de 150 minutos de exercício moderado ou 75 minutos de atividade intensa por semana. Atletas de alta competição devem evitar hipertermia, manter a hidratação adequada e manter a ingestão calórica adequada para prevenir perda de peso que pode afetar adversamente o crescimento fetal. Desportos de contato, inclusive aqueles com risco de queda, e mergulho estão desaconselhados.
- Na consulta pré-concecional serão requisitadas análises que permitem, por exemplo, rastrear doenças como diabetes ou doença tiroideia e identificar o grupo de sangue quando desconhecido. Permitem ainda determinar o estado de imunidade a várias infeções relevantes. Será realizado o rastreio do cancro do colo do útero, se estiver desatualizado.
O casal deve assumir um papel ativo nos cuidados pré-concecionais. Isto envolve a procura de cuidados de saúde em tempo útil, a adoção de estilo de vida saudável, como uma dieta equilibrada, prática de exercício físico regular, evicção de substâncias nocivas e gestão de doenças médicas existentes.
Saber Mais
Direção-Geral da Saúde de Portugal. Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco de 2015.
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