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Introdução

O líquido amniótico (LA) apresenta um papel essencial no desenvolvimento e crescimento fetal ao longo da gravidez. Constitui uma fonte de nutrientes, protege o feto contra traumas abdominais, evita a compressão do cordão umbilical sobre o útero e é essencial para o normal desenvolvimento dos sistemas respiratório, gastrointestinal e músculo-esquelético fetais.

A quantidade de LA resulta do balanço entre a sua produção e a sua eliminação. A partir do segundo trimestre, a produção de LA é essencialmente feita pelo sistema urinário e a sua eliminação decorre da deglutição e dos movimentos respiratórios fetais.

Ao longo da gravidez, a quantidade de LA aumenta progressivamente, atingindo o seu volume máximo entre as 30-34 semanas de gestação; a partir desta altura verifica-se uma diminuição progressiva. 

O volume de LA resulta do balanço entre a sua produção e eliminação, pelo que alterações do seu volume podem significar alterações das condições maternas e fetais.

Quando falamos de alterações do líquido amniótico podemos estar perante uma situação de hidrâmnio – condição em que há um excesso de LA, e oligoâmnio – quando o LA está diminuído. Apresentar-se-ão ambos separadamente.

I - HIDRÂMNIO

O hidrâmnio corresponde ao excesso de volume de LA. O seu diagnóstico é feito através de ecografia medindo a quantidade de LA. De acordo com essa medição, o hidrâmnio pode ser classificado em 3 níveis de gravidade: ligeiro, moderado ou grave.

Frequência

O hidrâmnio não é muito frequente, ocorrendo em cerca de 1-2% das gravidezes.

Causa

O hidrâmnio pode ser causado por um aumento da produção de LA ou por uma diminuição da sua eliminação. Pode, por isso, ser reflexo de alterações fetais, alterações maternas, na placenta ou então não ter uma causa definida (hidrâmnio idiopático).

Tabela 1 - Causas de Hidrâmnio

                               SEM CAUSA IDENTIFICADA (IDIOPÁTICA
                                          CAUSAS MATERNAS
·  Diabetes materna
·  Isoimunização
CAUSAS FETAIS
·  Macrossomia fetal
· Anomalias ou malformações congénitas (sistema gastrointestinal, genito-urinário, orofaciais, torácicas, cardiopatias congénitas, tumores fetais)
· Anomalias neuromusculares
· Doenças metabólicas
· Aneuploidias/ síndromes genéticos (Síndrome de Edwards, Síndrome de Down, síndrome de Pradder-Willi, síndrome de Bartter, razopatias, síndrome Beckwith-Wiedemann
· Infeções (Parvovirus B19, toxoplasmose, citomegalovirus, varicela zoster)
· Gravidez gemelar monocoriónica (síndrome de transfusão feto-fetal)
CAUSAS PLACENTÁRIAS
· Tumor da placenta

Sintomas

Na maioria das situações o hidrâmnio não causa sintomas. No entanto, o aumento do volume abdominal causado pelo excesso de LA em situações graves pode originar dificuldade respiratória, sensação de desconforto abdominal ou dor tipo contração uterina.

O que fazer

Na presença de hidrâmnio é necessário determinar a sua causa. Para isso podem ser solicitados exames complementares de diagnóstico, nomeadamente estudo analítico, ecografia obstétrica ou eventual exame invasivo (amniocentese), dependendo da situação clínica.

Tratamento

O tratamento pressupõe o alívio dos sintomas maternos e diminuição de possíveis complicações, como o parto pré-termo.

1.- Amniodrenagem

A amniodrenagem consiste na extração de LA do abdómen materno. Habitualmente realiza-se até às 35 semanas.

As principais indicações para realização de amniodrenagem são:

  • Sintomas maternos importantes, como dificuldade respiratória ou dor tipo contração uterina
  • Hidrâmnio grave com colo curto 

As complicações são raras, ocorrendo em cerca de 3.1% dos casos, e englobam a possibilidade de rotura prematura de membranas (RPM) ou descolamento da placenta.

2.- Inibidores das prostaglandinas

Os inibidores das prostaglandinas, nomeadamente a indometacina, são um grupo de medicamentos utilizados como tratamento de segunda linha nos casos de hidrâmnio. O seu objetivo é diminuir a quantidade de LA.

Deve ser realizada sempre que possível antes das 32 semanas de gestação, pelo risco de encerramento prematuro do canal arterial. 

Evolução / Prognóstico

O prognóstico está relacionado com a causa do hidrâmnio.

De uma forma geral o hidrâmnio está associado a um maior risco de parto pré-termo, RPM, prolapso do cordão umbilical e descolamento da placenta. Além disso, há uma maior probabilidade de o feto se apresentar em posição não cefálica.

Relativamente ao recém-nascido, este pode apresentar maior dificuldade de adaptação à vida extrauterina, necessidade de apoio em internamento na unidade de cuidados neonatais e um maior risco de morte perinatal.

Prevenção / Recomendações

A vigilância materno-fetal e a terminação da gravidez devem ser baseadas na causa do hidrâmnio.

No hidrâmnio grave recomenda-se uma vigilância semanal desde as 32-34 semanas. Nos restantes casos não está recomendada nenhuma alteração na vigilância antenatal normal. Se estiver associado a sintomas maternos pode ser considerada a terminação da gravidez às 37 semanas.

II.- OLIGOÂMNIO

O oligoâmnio corresponde a uma diminuição do volume de LA. Quando o seu volume está muito diminuído designa-se oligoâmnio grave ou anidrâmnio.

Frequência

O oligoâmnio afeta cerca de 0.5-10% do total das gravidezes, verificando-se uma maior incidência em idades gestacionais mais avançadas.

O oligoâmnio ocorre devido a uma diminuição da produção de LA e/ou a um aumento da sua absorção. Dentro das causas mais comuns para oligoâmnio está a diminuição do fluxo urinário do feto e a RPM

(Tabela 2)-Causas de oligoâmnio

                          CAUSAS PLACENTÁRIAS E MEMBRANÁRIAS
·        Rotura prematura de membranas
·        Descolamento placentar
·        Trombose placentar
                                                   CAUSAS FETAIS
·        Restrição de crescimento fetal, gravidez pós-termo, infeções por citomegalovirus
·        Malformações (patologia renal e do trato urinário, defeitos do tubo neural ou do sistema nervoso, doenças esqueléticas, cardiopatias congénitas)
·        Cromossomopatias (trissomia 13, triploidias)
·        Gravidez gemelar monocoriónica (síndrome de transfusão feto-fetal)
                                               CAUSAS MATERNAS
·        Medicação: inibidores das prostaglandinas, inibidores da síntese da angiotensina 
·        Diabetes insípida
·        Condições médicas ou obstétricas associadas a insuficiência placentar (pré-eclâmpsia, hipertensão arterial crónica, trombofilias, nefropatias)
                     CAUSA DESCONHECIDA ( IDIOPÁTICA)

Sintomas

Na maioria das situações, o oligoâmnio não causa sintomas. Pode-se, no entanto, suspeitar da sua existência quando se verifica um tamanho uterino inferior ao esperado para a idade gestacional. O diagnóstico é sempre feito por ecografia.

O que fazer

Perante uma situação de oligoâmnio é necessário determinar qual a sua causa. Para isso podem ser utilizados meios complementares de diagnóstico, nomeadamente estudo analítico, ecografia obstétrica e eventual exame invasivo (amniocentese/ cordocentese). Deve ser excluída a RPM ou a toma de fármacos que se associam a oligoâmnio.

Tratamento

De acordo com a causa, o tratamento do oligoâmnio deve ser direcionado.

O tratamento do oligoâmnio tem como objetivo minimizar as sequelas pulmonares e/ ou ortopédicas que a falta de LA podem provocar, de acordo com a idade gestacional em questão.

A maioria das técnicas terapêuticas propostas até ao momento ainda não se encontra oficialmente recomendada, seja porque ainda se encontra em fase de investigação ou porque ainda não está comprovada a sua real segurança.

EVOLUÇÃO/ PROGNÓSTICO

O prognóstico depende da causa do oligoâmnio. 

Geralmente quanto mais precoce e mais grave for o oligoâmnio, maior o risco de interferir com o desenvolvimento pulmonar do feto. Existe também um maior risco de defeitos esqueléticos e contraturas fetais, parto pré-termo e morte fetal.

Os recém-nascidos podem ter menor peso ao nascimento, menor capacidade de adaptação à vida extrauterina e maior probabilidade de internamento na unidade de cuidados neonatais.

PREVENÇÃO/ RECOMENDAÇÕES

A vigilância materno-fetal e a terminação da gravidez devem ser baseadas na causa do oligoâmnio.

No oligoâmnio isolado a vigilância fetal antenatal deve ser realizada desde o diagnóstico até ao parto, semanalmente. A terminação da gravidez está recomendada entre as 36-37 semanas.

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Restrição de crescimento fetal, anomalias fetais.

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