Cancro ginecológico – considerações gerais e prevenção
Introdução
O cancro ginecológico é o termo utilizado para descrever os tipos de cancro que afetam o trato reprodutor feminino, incluindo o cancro do colo do útero, do endométrio (revestimento interno do útero), do ovário, das trompas, da vulva e da vagina.
Estes tipos de cancro, cujas taxas de incidência têm aumentado, podem ser devastadores para a saúde e bem-estar das mulheres, afetando a sua capacidade reprodutiva e podendo ter um impacto significativo na sua qualidade e esperança de vida.
A prevenção e diagnóstico precoce destes cancros são consideradas estratégias essenciais para a saúde nas sociedades desenvolvidas, visando o tratamento atempado com aumento da sobrevida.
A eficácia desta abordagem na saúde é dependente do conhecimento da epidemiologia e história natural das doenças, desempenhando os profissionais de saúde um papel de grande importância na educação das populações, através por exemplo do incentivo à realização de rastreios e cumprimento de programas de vacinação.
Frequência
A incidência e prevalência dos cancros ginecológicos variam de acordo com o tipo de cancro e região geográfica, sendo influenciadas por fatores de risco como a idade, história familiar, hábitos tóxicos e sexuais e acesso a medidas de prevenção.
De forma geral, os cancros ginecológicos são responsáveis por uma percentagem significativa dos casos de cancro diagnosticados em mulheres em todo o mundo, sendo o cancro do endométrio o 4º cancro mais prevalente em mulheres e o mais frequente dos ginecológicos.
Relativamente ao cancro do colo do útero, este representa a 5ª causa de cancro nas mulheres (cerca de 6.6%), sendo especialmente prevalente em países em desenvolvimento, cujos programas de rastreio e vacinação não estão implementados. O cancro do ovário e trompas embora menos frequentes que os anteriores, são frequentemente diagnosticados na pós-menopausa e em estádios mais avançados, representando 2% de todos os cancros nas mulheres.
Os cancros da vulva e vagina embora muito menos frequentes, representando apenas 0.3% de todos os cancros nas mulheres, merecem a nossa atenção, sendo a sua incidência maior nos países desenvolvidos.
Causa
Os cancros ginecológicos são causados por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Embora a maioria dos casos de cancro ginecológico não tenha uma causa clara, há certos fatores de risco, dependentes e independentes do indivíduo, que aumentam a probabilidade de desenvolver a doença.
De entre os fatores de risco mais frequentemente associados ao cancro ginecológico, destacam-se os seguintes:
- Idade - o risco de desenvolver cancro ginecológico aumenta com a idade;
- História familiar de cancro - mulheres com história familiar de cancro ginecológico têm um risco maior de desenvolver a doença;
- Mutações genéticas e doenças hereditárias – em algumas famílias podemos identificar determinadas mutações (exemplo. BRCA 1 e 2) ou doenças hereditárias (ex. Síndrome de Lynch) cuja incidência de cancros ginecológicos está muito aumentada relativamente à população em geral;
- Infeções – algumas infeções, como a provocada pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV), aumentam o risco de cancro, sendo este o principal responsável pelos casos de cancro do colo do útero, vulva e vagina;
- Tabagismo – as mulheres fumadoras apresentam o maior risco de desenvolver cancro do colo do útero e do ovário;
- Obesidade – a obesidade aumenta o risco de incidência do cancro do endométrio;
Terapêutica hormonal – alguma terapêutica hormonal em uso prolongado, como a terapêutica hormonal de substituição com estrogénios isolados ou o tamoxifeno, podem associar-se a um maior risco de cancro do endométrio.
Sinais e sintomas
Referindo-se o cancro ginecológico a um grupo abrangente de doenças, os sintomas associados podem depender não só do tipo de cancro em causa como do estádio em que o mesmo se encontra no momento do diagnóstico.
Se por um lado, por exemplo, a maioria dos cancros do endométrio manifestam-se desde fases iniciais com sangramento vaginal anormal, permitindo num grande número de casos um diagnóstico e tratamento atempados, os cancros do ovário e trompas tendem a ser mais silenciosos, revelando-se assintomáticos até fases avançadas da doença.
De forma geral podemos distinguir alguns sinais e sintomas comuns que podem associar-se a este tipo de cancros, entre eles:
- Dor abdominal ou pélvica;
- Perda de peso inexplicável;
- Mudanças no ciclo menstrual, por exemplo na quantidade e frequência do fluxo de sangue;
- Sangramento vaginal anormal, sobretudo após a menopausa;
- Dor ou sangramento durante o sexo;
- Secreção vaginal anormal;
- Inchaço abdominal ou sensação de peso pélvico.
Importa referir que muitos dos sintomas associados aos cancros ginecológicos estão presentes noutras condições médicas, não indicando necessariamente a presença de cancro ou doença.
No caso dos mesmos estarem presentes, deve ser feita a avaliação clínica e contextualizada por um profissional de saúde experiente.
O que fazer
No caso de apresentar alguns dos sinais e sintomas referidos em cima, deve consultar o seu médico assistente. Contudo, para a prevenção do cancro ginecológico, com evidência comprovada estão recomendadas as medidas de prevenção primária e secundária com vacinação contra o HPV e rastreios do cancro do colo do útero e mama.
Tratamento
O tratamento dos cancros ginecológicos está dependente do tipo de cancro, do estádio em que é diagnosticado e das características individuais de cada paciente (exemplo: estado geral de saúde, doenças associadas).
De forma geral e, dependendo dos objetivos em cada situação clínica (exemplo: cura, melhoria da qualidade de vida, preservação da fertilidade), podem ser realizados tratamentos cirúrgicos, radioterapia, quimioterapia ou hormonoterapia. Outras abordagens complementares como a fisioterapia, a psicoterapia, a sexologia e nutrição devem ser consideradas, privilegiando-se em cada momento o bem-estar das doentes.
Desta forma se conclui que o tratamento dos cancros ginecológicos deve ser individualizado, orientado por equipas multidisciplinares e realizado idealmente em centros de referências para o efeito.
Prevenção / Recomendações
Existem essencialmente quatro tipos de prevenção na saúde, designados respetivamente por primária, secundária, terciária e quaternária.
A prevenção primária tem como objetivo evitar o aparecimento de doenças e inclui medidas como a adoção de um estilo de vida saudável, redução da exposição a fatores de risco (exemplo: tabaco, práticas sexuais de risco) e vacinação. No caso particular dos cancros ginecológicos, a vacinação contra o HPV é altamente eficaz na prevenção do cancro do colo do útero, sendo atualmente incluída em muitos planos de vacinação a nível mundial tanto para rapazes como para raparigas.
A prevenção secundária, onde se incluem os rastreios populacionais e organizados, têm como objetivo detetar doenças em fases iniciais e assintomáticas, promovendo o diagnóstico e tratamento precoces das mesmas, diminuindo por essa via o seu impacto negativo.
Relativamente aos cancros ginecológicos o rastreio do cancro do colo do útero é o único validado a nível nacional e internacional.
A prevenção terciária tem como objetivo reduzir o impacto negativo de uma doença já estabelecida; incluem-se neste tipo de prevenção os programas de reabilitação e seguimento regular em consulta.
A prevenção quaternária tem como objetivo evitar os danos causados pelos tratamentos médicos, promovendo-se uma escolha adequada de fármacos e terapêuticas ajustada a cada indivíduo.
Em qualquer momento, todas as dúvidas ou questões médicas devem ser esclarecidas junto de profissionais ou entidades reconhecidas na saúde.
Saber Mais
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