Introdução
As cistites (infeções da bexiga) de repetição, também conhecidas por infeções urinárias recorrentes, definem-se pela ocorrência de 2 cistites no período de 6 meses ou 3 episódios em um ano.
Frequência
As cistites de repetição podem ocorrer em 25-44% das mulheres que apresentaram um episódio de cistite. A maioria das recorrências ocorre nos primeiros três meses após a infeção inicial.
Causa
A causa mais frequente de cistite é a infeção bacteriana pela ascensão de bactérias do tracto intestinal através do aparelho urinário. A presença de uma uretra mais curta e a pequena distância entre a uretra e o ânus são as principais razões pelas quais estas infeções são mais comuns em mulheres.
Os principais fatores de risco para cistites de repetição podem dividir-se em fatores comportamentais, fatores urológicos e fatores genéticos.
No caso dos fatores comportamentais destacam-se:
- Frequência das relações sexuais (fator de risco mais importante)
- Uso recente de espermicida
- Novo parceiro sexual no último ano
- Primeira infeção urinária com 15 anos ou menos
- História materna de infeções urinárias
Os factores urológicos são mais relevantes nas mulheres após a menopausa e são:
- Incontinência urinária (perda involuntária de urina)
- Presença de prolapso da bexiga (“bexiga descaída”)
- Volume de urina retido na bexiga após urinar (esvaziamento incompleto da bexiga)
Podem existir factores genéticos que confiram um maior risco de cistites de repetição.
Não são fatores de risco: urinar antes e depois das relações sexuais, frequência de micção, banhos de imersão ou excesso de peso.
Sinais e sintomas
- Ardor a urinar
- Necessidade frequente de urinar
- Vontade súbita de urinar
- Urinar “às pingas”
- Perda incontrolável de urina
- Dor ou peso no baixo ventre
- Poderá também surgir sangue na urina.
O que fazer
Deverá consultar um médico.
Na maior parte dos casos, o profissional de saúde irá prescrever análise de urina e urocultura com teste de sensibilidade aos antibióticos.
No caso de as análises confirmarem a infeção, deverá ser proposto tratamento com antibiótico.
Se as análises urinárias forem negativas, deverão ser pesquisadas outras causas para os sintomas.
Tratamento
O tratamento da cistite de repetição deverá ser orientado pelo resultado da urocultura e respectivo teste de sensibilidade aos antibióticos.
Após terminar a terapêutica para a infeção aguda, deverá ser proposto tratamento para prevenir recorrências: medidas comportamentais e/ou antibioterapia preventiva (ver adiante).
Evolução / Prognóstico
As cistites simples de repetição podem ocorrer em 25-44% das mulheres que apresentaram um episódio de cistite. A maioria das recorrências ocorre nos primeiros três meses após a infeção inicial.
A principal medida associada à diminuição do risco de recorrência é o aumento da ingestão de água.
Prevenção / Recomendações
A prevenção poderá ser dividida em medidas farmacológicas e não farmacológicas, devendo ser usadas preferencialmente estas últimas. Contudo, no caso de recorrências frequentes ou em mulheres que não tolerem os sintomas está recomendado o uso de antibioterapia.
Medidas não farmacológicas:
- Aumento da ingestão de água (³ 2 litros/dia)
- Evicção de uso de espermicidas e diafragma
- Urinar após relações sexuais
- Fazer a limpeza da zona genital e anal da frente para trás
Medidas farmacológicas:
- No caso de a reinfeção estar associada às relações sexuais: antibioterapia após relações sexuais.
- Caso não haja associação temporal com as relações sexuais: terapêutica contínua.
A escolha do antibiótico deverá ser guiada de acordo com o teste de sensibilidade aos antibióticos.
Poderá realizar-se urocultura de controlo 1 a 2 semanas após terminar a terapêutica para a infeção aguda e antes de iniciar a antibioterapia preventiva. No caso de a urocultura não ser realizada, a terapêutica profilática deverá ser iniciada imediatamente após a suspensão da antibioterapia terapêutica.
O uso de antibioterapia preventiva deverá ser recomendado por 3 meses com posterior avaliação e individualização da terapêutica. Poderá ser prolongada por 6 a 12 meses.
O uso de antibioterapia profilática não está associado a uma diminuição do risco de recorrências após a sua suspensão. Assim, a eficácia é limitada ao período da sua utilização.
É importante reforçar que o uso de antibioterapia apresenta potenciais efeitos adversos: toxicidade, candidíase oral e vaginal, aumento da resistência aos antibióticos, infeção por Clostridium difficile e alterações na flora intestinal.
A utilização de profilaxia imunológica com lisados bacterianos não é consensual na literatura contudo, o seu uso poderá ser recomendado dado não parecer haver riscos associados ao seu uso.
Em mulheres após a menopausa também poderá ser recomendado o uso de estrogénio vaginal (na ausência de contraindicações).
Atualmente, o uso de probióticos, de D-manose e de arando não está indicado pela ausência de evidência que corrobore a sua utilização. Contudo, dado o baixo risco associado à sua utilização, o seu uso não é desaconselhado.
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Cistite aguda
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