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Introdução

A hiperplasia endometrial (HE) é caracterizada pelo aumento da espessura do endométrio (tecido que reveste a camada interna do útero) secundário a um desequilíbrio hormonal (aumento nos níveis de estrogénio em relação à progesterona) (1).

A hiperplasia, se não tratada, pode evoluir para cancro do endométrio (2,4). Se for detetada precocemente é possível prevenir a sua progressão (1,4).

Assim, é necessário diagnosticar e tratar adequadamente a HE.

Quais as causas e fatores de risco?

As causas típicas de excesso de estrogénio endógeno incluem ciclos anovulatórios (perimenopausa e síndroma de ovário poliquístico, obesidade e tumores do ovário secretores de estrogénio). As causas exógenas incluem a terapêutica com estrogénios sem oposição e o tamoxifeno.

Fatores de risco associados a HE (1,2):

  • Idade
  • Nuliparidade
  • Obesidade (IMC >25kg/m2)
  • Genético  
  • Diabetes Mellitus
  • Ciclos anovulatórios – SOP, perimenopausa
  • Menarca precoce
  • Menopausa tardia
  • Tumores ováricos – tumores de células granulosas
  • Terapêutica hormonal com estrogénios (fig. 2) 
  • Imunossupressão - transplantada
  • Predisposição hereditária: Síndrome de Lynch e Síndrome de Cowden
  • História familiar de cancro do endométrio, ovário, mama ou cólon

Tipos de hiperplasia endometrial

  • Hiperplasia endometrial sem atipia ou hiperplasia endometrial benigna: é o tipo mais comum, caracteriza-se pelo aumento do número de células sem anormalidades (2).
  • Neoplasia intra-epitelial endometrial (NIE) ou a hiperplasia endometrial com atipia (HEA): caracteriza-se por alterações celulares atípicas, estão presentes alterações estruturais nas células. É frequentemente uma lesão precursora do adenocarcinoma do endométrio (2). A vigilância e tratamento são essenciais para prevenir a progressão da doença. 

Sinais e sintomas

Quais os principais sintomas?

A hemorragia uterina é o principal sintoma (1,2). Esta pode manifestar-se como:

  • hemorragia menstrual abundante,
  • hemorragia intermenstrual,
  • hemorragia irregular em mulheres sob terapêutica hormonal de substituição, e
  • hemorragia pós-menopausa (1).

O que fazer

Diagnóstico

A ecografia transvaginal auxilia no estudo da hiperplasia endometrial, mas é a biópsia (estudo histológico) que nos permite fazer o diagnóstico.

Ecografia transvaginal 

  • Mulheres na pré-menopausa: o risco de cancro do endométrio e HEA é improvável em situações de hemorragia uterina anómala, e espessamento endometrial inferior a 7mm (1).
  • Mulheres na menopausa com sintomas de hemorragia uterina anómala : se a ecografia mostrar uma espessura endometrial aumentada ou um endométrio irregular, é aconselhável efetuar uma biópsia endometrial. Quando a espessura do endométrio é inferior a 3 ou 4 mm, a probabilidade de cancro do endométrio é reduzida para menos de 1%, pelo que não é necessária a colheita de amostras (1).

Biópsia endometrial

A biópsia endometrial pode ser obtida por cânula de aspiração ou dirigida por histeroscopia (2,3).

Tratamento

Objetivo do tratamento (1,2):

  • Prevenir a progressão para cancro do endométrio;
  • Excluir a presença de um tumor maligno do endométrio concomitante;
  • Optar por um plano de tratamento que melhor se adapte às necessidades da doente.

1.- HIPERPLASIA ENDOMETRIAL SEM ATIPIA / BENIGNA

  • Risco de progressão para uma neoplasia maligna invasiva em 20 anos é <5 % (1).
  • Risco de carcinoma endometrial concomitante <1% (2).
  • Pode regredir espontaneamente se o meio hormonal for corrigido (causas reversíveis de excesso de estrogénio como a obesidade e a utilização de THS.

A escolha do tratamento depende se a mulher se encontra em menopausa, do desejo reprodutivo e dos fatores de risco de progressão específicos da doente (3).

Tratamento conservador

Opção em mulheres na pré-menopausa com um ou mais dos seguintes (3):

  • O fator incitante da proliferação endometrial foi eliminado;
  • Ausência de outros fatores de risco para o carcinoma do endométrio;
  • Regulação do ciclo menstrual.  

Tratamento médico

A terapêutica médica com progestativos tem uma taxa de regressão mais elevada (89-96%) do que o tratamento conservador (74,2-81%) (1). Os progestativos contrabalançam os efeitos estimulantes dos estrogénios (1,2).

  • SIU com Levonorgestrel 52 mg (20 mcg/ dia) (maior taxa de regressão) (1,3);
  • Progestativo oral contínuo: medroxipogesterona 10-20 mg/ dia, ou noretisterona 5-15mg/ dia, ou acetato de megestrol 80 mg/ dia (40 mg, bid). Opção para mulheres que recusam SIU (1,3);
  • Esquema contínuo tem eficácia superior ao cíclico (3);
  • O tratamento deve ter a duração mínima de seis meses (1);
  • Em mulheres pré-menopáusicas a contraceção oral combinada também é uma opção (2).

Vigilância

  • Recomenda-se a vigilância com biópsia endometrial a cada seis meses durante um ano (1).
  • Considera-se remissão da doença duas biópsias negativas com intervalo de seis meses (1).
  • As mulheres com um Índice de Massa Corporal (IMC) >35 kg/m2 tratadas com progestativos orais devem ter um acompanhamento anual (têm risco mais elevado de recidiva) (1).
  • Mulheres com episódio de hemorragia uterina anómala  devem procurar apoio médico (1).

Tratamento cirúrgico

O tratamento médico tem uma elevada taxa de cura nestas doentes, pelo que a cirurgia não é um tratamento de primeira linha (1).A realizar-se, deverá proceder-se a histerectomia com salpingectomia bilateral (com ou sem ooforectomia bilateral dependendo da idade e do desejo da doente). (1,3)

  • Indicações:
    • Progressão para hiperplasia atípica durante o período de tratamento; (1)
    • Ausência de regressão da doença após 12 meses de tratamento; (1)
    • Recidiva da hiperplasia endometrial após tratamento com progestativo; (1)
    • Persistência da hemorragia uterina anómala; (1,3)
    • Não cumprimento do tratamento e recusa de vigilância acompanhamento; (1,3)
    • Opção da doente (3).

Vigilância

Após uma histerectomia total, se não houver carcinoma do endométrio na peça cirúrgica, não é necessária qualquer vigilância adicional relacionada com a EH (2).

Fluxograma 1

Fluxograma 1

2.- HIPERPLASIA ENDOMETRIAL COM ATIPIA | NEOPLASIA INTRA-EPITELIAL

Existe elevado risco (27,5%) de progressão para cancro do endométrio se não tratado (1). O risco de carcinoma endometrial concomitante varia entre 30 e 50% (4).

São fatores de risco para o carcinoma do endométrio concomitante: idade avançada, obesidade, diabetes mellitus e mulheres pós-menopáusicas com espessamento endometrial ≥20 mm em ecografia transvaginal (2). 

Tratamento cirúrgico

  • Histerectomia com salpingectomia bilateral (com ou sem ooforectomia bilateral dependendo da idade da doente) é o tratamento de primeira linha (1,3), sendo a via laparoscópica preferencial (1,2).

Se houver desejo de preservar a fertilidade ou contraindicação para cirurgia: 

  • Tratamento médico (taxas de regressão a variar entre 50% e 90%) (2,4)
    • SIU de levonorgestrel 52 mg (preferível)
    • Progestativo oral em toma contínua 
  • Vigilância (2,4)
    • Executar biópsia endometrial a cada 3 a 6 meses, durante 2 anos (3).
    • Em mulheres que tiveram regressão da HE e que estão a tentar engravidar, se não engravidarem no prazo de um ano, é aconselhado repetir biópsia endometrial anualmente (2).
  • Aconselhamento 

Com o risco de coexistência de patologia maligna/ progressão para doença invasiva, neoplasia ovárica coexistente, envolvimento sistémico e metástases (1). Há indicação para discussão em reunião multidisciplinar (1)

Fluxograma 2

Fluxograma 2

Saber Mais

HE – Hiperplasia endometrial;

NIE - Neoplasia Intra-epitelial Endometrial;

HEA - hiperplasia endometrial sem atipica;

SOP - síndrome do ovário poliquístico; 

THS - Terapêutica Hormonal de Substituição 

 THM - Terapêutica hormonal da Menopausa

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