Perturbação do orgasmo feminino
Introdução
A perturbação do orgasmo diz respeito à dificuldade em atingir o orgasmo e/ou intensidade diminuída do mesmo. Estas podem existir desde sempre (primárias) ou desenvolverem-se ao longo da vida apesar de a mulher já ter experienciado o orgasmo antes (secundárias).
As alterações do orgasmo podem ter uma causa identificável após avaliação médica ou psicológica. Quando não se encontra uma causa, acontecem em todas ou quase todas as relações sexuais há mais de seis meses e isso causa sofrimento importante, a designação atribuída é a de perturbação do orgasmo feminino.
É importante referir que o facto de não se atingir o orgasmo com penetração vaginal é uma variante da experiência humana, uma vez que é bastante comum as mulheres só conseguirem o orgasmo a partir do estímulo do clítoris.
Sinais e sintomas
Caso nunca tenha experienciado um orgasmo ou algo tenha alterado quer na frequência ou intensidade dos mesmos (contando que tem um estímulo sexual adequado), então deve procurar ajuda junto do seu médico de família.
Este irá fazer algumas questões no sentido de tentar perceber a causa. Não tem que responder a todas as questões se não se sentir confortável com isso, no entanto todas elas servem um propósito no sentido de melhor orientar a resolução do problema.
São exemplos dessas questões (nem todas irão ser colocadas, depende do motivo aparente), perguntas acerca da dificuldade e o contexto em que surge, há quanto tempo, se alterou ao longo do tempo e com diferentes parceiros, posições ou locais físicos onde ocorreu a relação sexual.
Irá ser avaliada se se sente adequadamente estimulada (mental e fisicamente) pelo seu parceiro e se nota que está excitada antes da relação sexual e lubrifica bem. Também, e muito importante, vai tentar perceber-se se consegue atingir o orgasmo com a masturbação e se sente dor durante a relação.
Outro tipo de questões são acerca do seu passado sexual e experiências (nomeadamente se tem experiências negativas), se é natural para si masturbar-se e o que pensa dessa prática. Vai tentar perceber-se quais são os tabus existentes e quais são os costumes e valores sexuais familiares e culturais e o impacto no conhecimento e na forma como vivencia a sua sexualidade.
Também vai tentar perceber se está satisfeita com a sua imagem corporal e genital e se se sente de alguma forma inibida durante o sexo e porquê.
No que diz respeito à vida de relação, vai ser avaliado o que acha acerca da qualidade e estabilidade da(s) sua(s) relação(ões) afetiva(s) e se está satisfeita com a(s) mesma(s) e com a comunicação existente (sexual e não sexual).
Vão ser colocadas algumas questões acerca do(s) seu(s) parceiro(s) sexual(is), nomeadamente se também têm alguma disfunção sexual, se têm competências sexuais, o seu estado geral de saúde e se há discrepâncias no desejo sexual.
Vai ser realizada uma avaliação dos seus antecedentes médicos e cirúrgicos (p.ex. doença vascular, doenças crónicas) e se já houve tentativas de tratamento anteriores.
Se há queixas que apontem para outras doenças psiquiátricas (p. ex., depressão, ansiedade) ou fatores de stress (p. ex., perda de emprego, luto) e se está a tomar medicamentos e quais.
Pode ser também pedido, se o permitir, a que seja entrevistada juntamente com o(s) seu(s) parceiro(s), uma vez que pode fornecer dados valiosos acerca da qualidade da relação, comunicação e resolução de problemas. Também é possível que lhe seja pedido que responda a questionários.
É pouco provável que seja examinada fisicamente, a não ser que tenha queixas específicas, assim como é pouco provável que lhe sejam pedidos exames de diagnóstico.
Há situações que o seu médico de família vai conseguir orientar sozinho, outros casos vão ser referenciados para outros profissionais de saúde (p. ex. psicológico, ginecologista, psiquiatra, entre outros).
O que fazer
Antes de começar o tratamento, é importante uma gestão de expectativas realistas e perceber que é um erro o foco obsessivo no orgasmo, uma vez que mesmo sem orgasmo é possível ter relações sexuais com prazer.
Nas mulheres em que a alteração do orgasmo é secundária a uma condição médica, psiquiátrica ou à utilização de um medicamento, o tratamento vai ser dirigido a essa causa.
Quando não se conhece propriamente uma causa para a perturbação do orgasmo, então as intervenções possíveis são a educação acerca do tema, psicológicas e médicas. A maioria destes tratamentos vão precisar do seu esforço e dedicação para que sejam bem-sucedidos.
São exemplos a psicoeducação, onde vai adquirir informação relevante e apropriada acerca da anatomia e função sexual e vão ser desmistificadas ideias erradas que possam estar a contribuir para o problema. Caso a estimulação que recebe não seja adequada, vai perceber como melhorar esse ponto (p.ex. posições/técnicas sexuais que facilitem o orgasmo – técnica de alinhamento coital, e como deve normalizar a estimulação manual e oral como meios adequados para conseguir atingir o orgasmo mesmo na atividade em par).
A terapia sexual é outra abordagem que estimula a exposição a experiências novas e à aprendizagem de novas capacidades. Podem ser-lhe propostos exercícios que têm evidência científica, como a masturbação dirigida. A alteração do número, intensidade e variedade de estímulos também poderá ser incentivada.
Outra abordagem mais dirigida ao par é o chamado foco sensorial que consiste numa série de exercícios com base no toque e com grau de intimidade progressivo, que tem como objetivo aumentar o conforto com a intimidade sexual.
Em termos de terapia, a terapia cognitivo-comportamental tem como objetivo a correção de pensamentos que não a estejam a ajudar a atingir o orgasmo (p.ex. medo de experimentar um orgasmo em frente ao parceiro/a, expectativas irrealistas acerca do desempenho sexual, preocupação excessiva acerca da aparência física durante o ato sexual); a terapia de casal e treino de comunicação em casal é importante nos casos onde dominem os conflitos interpessoais e onde pareça que contribuam para a perturbação do orgasmo ou para a sua perpetuação.
Os exercícios de mindfulness pretendem que aprenda a focar-se plenamente na atividade para que tenha menos distrações e mais consciência acerca da excitação e prazer do momento.
Em relação às intervenções biológicas, atualmente, não existe nenhum medicamento aprovado para o tratamento da perturbação do orgasmo. São intervenções possíveis o uso de aparelhos estimulantes como dispositivos com vácuo e vibradores.
Os procedimentos cosméticos vendidos com objetivo de potenciar o orgasmo (p.ex. preenchimento no ponto G, diminuição do prepúcio do clítoris), não têm evidência científica e como têm riscos não devem ser realizados até haver mais estudos a comprovar que têm eficácia.
Evolução / Prognóstico
A evolução vai depender muito da causa das alterações do orgasmo, mas com tratamento correto, e com motivação por parte da pessoa, a maioria das causas têm solução.
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