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Introdução

A síndrome de hiperestimulação ovárica (SHO) é uma complicação rara, mas importante, causada por uma reação exagerada aos medicamentos administrados durante a estimulação ovárica em procriação medicamente assistida (PMA).

Frequência

A SHO ligeira pode acontecer em até 33% dos tratamentos de PMA de segunda linha (fertilização in vitro (FIV) ou injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI)), mas as formas graves estão descritas em 0,1 a 2% dos tratamentos. 

Causa

Durante os tratamentos de PMA é necessário administrar medicamentos para a estimulação dos ovários e crescimento de folículos. Em algumas mulheres ocorre uma resposta exagerada à estimulação, com crescimento de um número elevado de folículos e grande aumento das hormonas femininas.

Nestes casos, os ovários produzem e libertam substâncias químicas na corrente sanguínea, causando a saída do líquido (plasma) dos vasos sanguíneos para o abdómen, ou, em casos graves, para o espaço entre os pulmões e coração. Estas alterações podem afetar também a função dos rins e dos pulmões, e em situações graves causar o desenvolvimento de coágulos (trombos).

Sinais e sintomas

Os sinais e sintomas da SHO variam de acordo com a sua gravidade. Os sintomas da SHO ligeira a moderada incluem: desconforto abdominal, distensão abdominal ligeira, ligeiro aumento de peso (devido à acumulação de líquidos no organismo), ligeiro inchaço dos pés, enjoos (náuseas) e diarreia.

Em casos mais graves de SHO, os sintomas podem incluir: sensação importante de sede, com desidratação; ganho excessivo de peso; dor abdominal intensa; distensão abdominal significativa; enjoos (náuseas) e vómitos frequentes; diminuição do número de micções e do volume de urina; dificuldade respiratória. 

Uma complicação séria, mas rara, é a formação de coágulos sanguíneos (trombose) nas pernas ou nos pulmões. Os sintomas da trombose na perna são o edema (inchaço) com dor durante o movimento ou ao toque e da trombose pulmonar a dor no peito e a falta de ar.

O que fazer

Após a colheita de ovócitos (punção folicular ou dos ovários) é normal existir um leve desconforto abdominal e/ou pélvico. 

Na presença de desconforto ou dor abdominal e/ou pélvica é aconselhado tomar um analgésico (como por exemplo, paracetamol 1g de 8 em 8 horas) para controlo dos sintomas. Os anti-inflamatórios devem ser evitados. 

No entanto, quando os sintomas persistem ou apresentam um agravamento ao longo do tempo, ou na presença e/ou persistência de sintomatologia descrita anteriormente (náuseas, vómitos, distensão abdominal, agravamento da dor abdominal), é importante procurar ajuda médica, nomeadamente contactar o centro de PMA. 

Na presença de sintomatologia associada à SHO grave é importante recorrer de imediato ao serviço de urgência.

Tratamento

Não há qualquer tratamento dirigido para a SHO, e na maioria dos casos esta condição resolve-se espontaneamente ao fim de 1 a 2 semanas. Os tratamentos prestados servem para controlar os sintomas e prevenir agravamento do quadro ou complicações. 

A maioria das doentes têm SHO ligeira a moderada e podem ser vigiadas em ambulatório. 

Nestes casos, é importante: 

  • Evitar exercício físico intenso e relações sexuais;
  • Beber água de acordo com a sede (preferencialmente 2 a 3 litros de água por dia);
  • Em caso de dor, tomar paracetamol 1g de 8 em 8 horas (evitar anti-inflamatórios);
  • Em caso de náuseas ou vómitos, o seu médico pode prescrever-lhe medicação para controlar estes sintomas;
  • Em alguns casos, pode ser necessária administração de um medicamento injetável (heparina) para prevenir o risco de formação de coágulos (trombos) nos vasos sanguíneos.

Habitualmente o seu médico irá observá-la na clínica de PMA regularmente, avaliando a evolução dos sintomas (dor abdominal, náuseas, vómitos), do peso, volume abdominal e da frequência urinária. Nestas consultas poderá ser necessária nova realização de ecografia e de análises de sangue.

Deve dirigir-se à sua clínica de tratamentos de PMA mais cedo ou ao serviço de urgência caso aconteça qualquer uma destas situações: 

  • Dor abdominal que não melhora com paracetamol;
  • Vómitos frequentes sem melhoria com a medicação prescrita;
  • Falta de ar; 
  • Tensão arterial baixa com sensação de desmaio;
  • Aumento de peso (> 1 Kg/dia) e do perímetro abdominal;
  • Aumento de tamanho de uma das pernas de forma assimétrica acompanhado de dor ao toque ou no movimento.

Em alguns casos, pode ser necessário internamento para uma vigilância mais próxima, nomeadamente em caso de:

  • Sintomas (como por exemplo dor abdominal ou vómitos) que não respondem ao tratamento com comprimidos; 
  • SHO grave;
  • Agravamento dos sintomas durante a vigilância em casa,
  • Impossibilidade de vigilância frequente a partir de casa.

Nestes casos, no internamento será avaliado de forma regular o seu peso, volume abdominal, tensão arterial e frequência cardíaca; serão feitas análises ao sangue periodicamente; e será promovido também o aporte de líquidos, podendo ser necessário administrar soro por via endovenosa quando a água ingerida não for suficiente. Poderá também ser necessária a administração de medicação endovenosa para controlo das queixas dolorosas e dos vómitos. 

Em alguns casos, na presença de muito líquido acumulado dentro do abdómen pode ser necessário fazer uma punção com uma agulha, para permitir a sua drenagem (paracentese). Esta punção permite frequentemente um alívio significativo dos sintomas.

Em raras situações, pode haver necessidade de apoio de outras especialidades para controlo e orientação de complicações em outros órgãos (nomeadamente dos pulmões e dos rins).

Evolução / Prognóstico

Os sintomas de SHO geralmente surgem nos primeiros dias após a punção ovárica, sendo na maioria dos casos ligeiros a moderados. A maioria dos sintomas desaparece ao longo de cerca de duas semanas, na ausência de gravidez. 

Quando a gravidez ocorre, os sintomas persistem durante mais tempo, geralmente durante cerca de 2 a 3 semanas após o teste de gravidez positivo, e o quadro pode ser mais grave nestes casos. 

Está descrito um risco ligeiramente superior de pré-eclâmpsia (complicação relacionada com tensão arterial elevada na gravidez) e parto pré-termo em casos de SHO grave associado a gravidez.

Prevenção / Recomendações

Em alguns casos é possível prever as doentes com maior risco de desenvolver SHO antes de iniciar os tratamentos ou durante o ciclo de estimulação ovárica. 

Quando as pacientes em risco são identificadas antes do início do tratamento, o médico pode ajustar a dose da medicação e o tipo de tratamento para reduzir o risco de SHO. Por outro lado, em mulheres com síndrome de ovário poliquístico, pode ser ponderada a prescrição de um medicamento chamado metformina.

Quando as pacientes em risco são identificadas durante o tratamento, pode ser administrada cabergolina durante 7 dias, para reduzir o risco de SHO grave, e/ou considerada a criopreservação (congelamento) dos embriões, para transferência posterior, dado que a gravidez pode agravar ou prolongar no tempo o SHO.

 

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