Introdução
O cancro da mama é um tumor maligno do tecido mamário.
Frequência
É o tipo de cancro mais comum nas mulheres em Portugal, com cerca de 8700 novos casos por ano e mais de 2 milhões de casos diagnosticados a nível mundial.
Fatores de risco
Fatores que aumentam o risco de desenvolver cancro de mama incluem:
- Ser mulher (99% casos diagnosticados em mulheres)
- Idade≥ 50 anos
- História familiar de cancro da mama ou ovário (1º ou 2º grau)
- Ter certas alterações genéticas (como BRCA1 ou BRCA2)
- Menarca cedo ou menopausa tarde
- Não ter tido filhos ou ter o primeiro filho depois dos 35 anos
- Obesidade, especialmente após a menopausa
- Consumo regular de álcool e tabaco
- Sedentarismo
- Antecedentes de radiação torácica
Sinais e sintomas
Embora muitas vezes o cancro da mama seja descoberto num exame de rotina (mamografia de rastreio), também se pode apresentar como:
- Nódulo (caroço) na mama ou axila, duro, fixo e indolor
- Alteração no tamanho ou forma da mama
- Retração da pele ou do mamilo
- Vermelhidão, calor, dor ou ferida na mama persistente, que não resolvem após tratamento
- Secreção mamilar unilateral
O que fazer
O diagnóstico baseia-se em três passos principais:
- Avaliação médica com observação e palpação da mama
- Exames de imagem: mamografia, ecografia +/- ressonância magnética
- Biópsia: recolha de uma amostra do tecido suspeito para análise histológica.
Existem diferentes tipos de cancro de mama:
- Com diferentes tipos histológicos, entre os mais frequentes, o carcinoma ductal in situ, o carcinoma invasivo de tipo não especial/NST (75-80% casos), o carcinoma lobular invasivo (8%), entre outros tipos menos frequentes.
- Com ou sem recetores hormonais (estrogénio/progesterona)
- Com ou sem recetores Her-2
- Pode ter diferentes níveis de agressividade
- Pode ser localizado (inicial) ou avançado (com metástases à distância)
As características do tumor, bem como o estádio influenciam o tratamento escolhido e o prognóstico.
Tratamento
O tratamento depende do tipo histológico e molecular do cancro, da fase da doença e das características do doente (idade, relação tamanho tumor/mama, comorbilidades médicas, etc.) e pode incluir:
Cirurgia
- Tumorectomia (retirar apenas o tumor)
A cirurgia conservadora (tumorectomia) está indicada em tumores com ≤ 2 cm e/ou sempre que cirurgia ótima for possível (quando existe boa relação dimensão tumor/mama). Nestes casos, o tratamento passa sempre pela radioterapia posterior à cirurgia.
- Mastectomia (retirar a mama).
- Biópsia do gânglio sentinela - a biópsia do gânglio sentinela permite a identificação do primeiro gânglio linfático que drena o sistema linfático da mama. Este representa o primeiro gânglio linfático para onde as células cancerígenas têm maior probabilidade de se espalhar a partir do tumor da mama e portanto, é identificado e removido.
- Linfadenectomia - envolve a resseção em bloco dos gânglios axilares. Está recomendada se 3 ou mais gânglios sentinela forem positivos ou se a radioterapia for omitida.
Radioterapia
- A radioterapia utiliza radiações de alta energia (geralmente raios X) para destruir células cancerígenas que possam permanecer após a cirurgia e está recomendada nos seguintes casos:
- Após cirurgia conservadora da mama (tumorectomia) para reduzir o risco de recidiva local.
- Após mastectomia, se houver risco elevado (ex.: tumor grande, gânglios positivos).
- Em alguns casos avançados ou metastáticos, pode ser usada com objetivo paliativo (para aliviar sintomas).
Hormonoterapia
Através de medicamentos que bloqueiam ou diminuem a quantidade de hormonas, em tumores com receptores hormonais positivos – ex.: tamoxifeno, letrozol, anastrozol ou exemestano.
Quimioterapia
consiste na utilização de medicamentos que circulam pela corrente sanguínea e destroem células cancerígenas em todo o corpo.
Está recomendada nos seguintes casos:
- Tumores triplo negativos (sem receptores hormonais nem HER2)
- Tumores HER2 positivos (combinada com terapias dirigidas)
- Tumores hormonais positivos com alto risco de recorrência
- Doença localmente avançada ou metastática
Medicamentos mais comuns:
- Antraciclinas (ex.: doxorrubicina)
- Taxanos (ex.: docetaxel, paclitaxel)
- Combinados com ou seguidos de terapias dirigidas (ex.: trastuzumab) em alguns subtipos.
Efeitos secundários possíveis:
- Fadiga (cansaço)
- Náuseas e vómitos
- Alterações do apetite
- Perda de cabelo
- Diminuição do sistema imunitário (risco de infeções)
- Alterações no ciclo menstrual
- Em alguns casos, afetação cardíaca
A maioria dos efeitos é temporária e passível de ser controlada com medicação de apoio.
Terapias dirigidas
Também chamadas terapias alvo, são medicamentos que atuam diretamente em alterações específicas das células cancerígenas, sem afetar tanto as células saudáveis.
- Para tumores com receptores HER2 – Trastuzumab, Pertuzumab
- Para doentes BRCA1/2 positivos - Olaparib, Talazoparib
Imunoterapia
Em casos específicos, é indicada em tumores triplo negativos com expressão de PD-L1: Atezolizumab.
Evolução / Prognóstico
Graças aos avanços no rastreio do cancro da mama, no diagnóstico precoce e nos tratamentos oferecidos (cirurgia, radioterapia, hormonoterapia, quimioterapia e terapias dirigidas), a sobrevivência no cancro da mama tem vindo a aumentar significativamente nas últimas décadas. Atualmente, a taxa de sobrevivência a 5 anos pode chegar próximo dos 100% nos estádios iniciais.
Principais Fatores de Prognóstico:
- Tamanho do tumor - quanto maior o tumor, maior o risco de se espalhar e pior o prognóstico.
- Gânglios linfáticos afetados - o número de gânglios axilares com células cancerígenas é um dos fatores mais importantes: 0 gânglios → melhor prognóstico e nos casos em que muitos gânglios são positivos → maior risco de recidiva.
- Metástases – Na presença de metástases à distância (ossos, fígado, pulmões, cérebro), o prognóstico é mais reservado.
- Grau diferenciação do tumor - Mostra o quão diferentes são as células cancerígenas das células normais:
- Grau 1: bem diferenciado (menos agressivo)
- Grau 3: pouco diferenciado (mais agressivo)
- Subtipo molecular:
- Luminal A → melhor prognóstico
- Luminal B → intermédio
- HER2-enriquecido → mais agressivo, mas responde bem à terapêutica dirigida
- Triplo negativo → mais agressivo e com maior risco de recidiva precoce
- Receptores hormonais (estrogénio e progesterona) - Se forem positivos, o tumor responde à hormonoterapia e tem melhor prognóstico.
- HER2 - HER2 positivo → associado a um tumor mais agressivo, mas o prognóstico melhorou muito com terapias dirigidas como o trastuzumab.
- Ki-67 (índice de proliferação) - Valor elevado → tumor mais agressivo.
- Resposta ao tratamento - Se o tumor responde bem à quimioterapia ou à terapêutica neo-adjuvante, o prognóstico é geralmente melhor.
- Testes genéticos do tumor - Testes como o Oncotype DX ou MammaPrint avaliam o risco de recidiva e ajudam a decidir se a quimioterapia é indicada.
- Invasão linfática ou vascular -Quando o tumor invade vasos linfáticos ou sanguíneos, existe maior risco de se espalhar.
- Idade e estado hormonal - Tumores em mulheres mais jovens (<40 anos) tendem a ser mais agressivos.
Prevenção / Recomendações
Embora nem todos os casos de cancro da mama possam ser evitados, há várias medidas que reduzem o risco e ajudam na detecção precoce, o que melhora o prognóstico, nomeadamente:
- Realizar rastreio de cancro de mama de acordo com recomendações nacionais.
- Estar atenta a alterações na mama: nódulos, alterações da pele, retração do mamilo ou secreções mamilares.
- Manter um estilo de vida saudável
- Exercício físico regular (pelo menos 30 minutos por dia).
- Manter um peso saudável, especialmente após a menopausa.
- Alimentação equilibrada
- Frutas, vegetais, leguminosas e alimentos integrais.
- Reduzir o consumo de álcool — mesmo quantidades moderadas aumentam o risco.
- Limitar alimentos ultra-processados e gorduras saturadas.
- Não fumar - O tabagismo está associado ao aumento do risco de vários tipos de cancro, incluindo o da mama.
- Amamentação - A amamentação tem um efeito protetor, especialmente quando prolongada por vários meses.
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