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Introdução

O cancro cervical ou do colo do útero (CCU) é um tumor maligno que aparece nas células do colo do útero (porção final do útero que termina na vagina). 

 

Frequência

É o quarto cancro mais frequente nas mulheres em todo o mundo.

A incidência e mortalidade nos países desenvolvidos tem vindo a diminuir, no entanto, em países sem acesso a programas de rastreio e vacinação,  o CCU permanece a principal causa de morte por doença oncológica nas mulheres. 

Causa

Em mais de 99% dos casos é provocado pelo vírus do Papiloma Humano (HPV), sendo os subtipos 16 e 18 responsáveis pela maioria dos casos. 

Este vírus é sexualmente transmissível, e está  presente em grande parte das pessoas com vida sexual. No entanto, a maioria das mulheres (90%) vai eliminar espontaneamente o vírus em meses ou poucos anos, sem qualquer sequela. Numa pequena percentagem de pessoas, o vírus mantém-se persistente e não é eliminado, podendo causar alterações nas células do colo do útero, levando ao aparecimento de lesões pré-malignas.

O CCU surge destas lesões pré-malignas, mas tem um desenvolvimento muito lento, de cerca de 10 anos. Assim, é possível de prevenir, com a realização periódica do rastreio (ver abaixo secção PREVENÇÃO). Ao serem diagnosticadas a tempo, estas lesões podem ser tratadas e, assim, nunca chegará a ter cancro.

Fatores de risco incluem: tabagismo, início de vida sexual precoce (<18 anos), múltiplos parceiros sexuais, história de outras doenças sexualmente transmissíveis, doenças auto-imunes e imunossupressão crónica.

Sinais e sintomas

Numa fase inicial, a maioria das mulheres não tem qualquer sintoma. Pode ser descoberta alguma lesão durante a observação ginecológica ou por resultado anormal dos exames de rastreio.

Nas fases mais avançadas pode aparecer:

  • hemorragia vaginal durante ou após a relação sexual
  • hemorragia vaginal abundante ou intermenstrual
  • corrimento vaginal com mau cheiro
  • desconforto vaginal ou dor durante as relações sexuais

O que fazer

  • Em caso de apresentar sintomas deve dirigir-se ao médico de família ou ginecologista para avaliação clínica.
  • Na consulta:
    • vai ser realizada a história clínica, onde irá ser questionada a sua história médica e analisado se tem algum fator de risco;
    • será feito o exame pélvico completo: observação da vulva, exame ao espéculo (onde é observada a vagina e o colo do útero, e verificado se existe alguma lesão visível), palpação bimanual (toque vaginal e palpação do abdómen para avaliar tamanho do útero e descartar presença de alguma massa) e toque retal;
    • se não tiver o rastreio atualizado, ser-lhe-á realizada citologia (o conhecido “ teste de Papanicolau”) e/ou pesquisa do vírus HPV (teste realizado da mesma forma que a citologia do colo, mas no laboratório faz a pesquisa deste vírus)
  • No caso de haver alterações nos exames de rastreio ou se for identificada alguma lesão cervical durante o exame objetivo, poderá será encaminhada para a realização de uma colposcopia.
    • Neste exame é utilizado um aparelho chamado colposcópio que permite a observação do colo do útero com maior iluminação e ampliação;
    • Se tiver alguma alteração na colposcopia, será feita uma biópsia. A análise do tecido colhido pela biópsia poderá dar o diagnóstico de lesão pré-maligna ou cancro do colo do útero.
  • Se tiver um cancro do colo do útero confirmado, terá de fazer exames de imagem (ressonância magnética pélvica, e em alguns casos PET ou TAC) para avaliar a extensão do tumor e verificar se existem gânglios linfáticos ou outros órgãos envolvidos. É assim que vai ser determinado o “estadio do tumor”. 

Tratamento

O tratamento do CCU vai depender do estadio em que se encontra o tumor.

  • Se o tumor ainda não for visível (fase muito inicial) poderá ser excisado com uma conização (tratamento sob anestesia local em que é retirada a porção terminal do colo que tem o tumor, em forma de cone).
  • Se o tumor estiver num estadio inicial (ou nos casos em que não é possível retirar totalmente o tumor com a conização), o tratamento passa pela realização de uma cirurgia radical para retirar o útero, trompas (± ovários) e gânglios linfáticos. Dependendo do estadio do tumor e outros fatores, poderá ser necessário realizar uma cirurgia mais complexa. 
  • Nos estadios mais avançados da doença, o tratamento passará por quimioterapia e radioterapia.

Evolução / Prognóstico

O prognóstico vai depender do estadio do tipo de tumor, da sua dimensão, se afeta outras estruturas para além do colo do útero, metastização dos gânglios linfáticos ou de outros órgãos. Os estadios mais precoces têm melhor prognóstico que os estádios mais avançados.

Nos casos em que o tumor é totalmente retirado por conização, o mais provável é que não necessite de mais tratamentos. Necessitará depois de fazer vigilância clínica e com citologia/pesquisa de HPV.

Caso tenha realizado histerectomia (retirado o útero), só ficará confirmado que não necessita de mais tratamentos após o relatório completo do patologista, que examina todos os tecidos e gânglios linfáticos retirados e verifica a real extensão do tumor e se foi totalmente retirado (margens). Em alguns casos de maior risco de recidiva, poderá ter de fazer radioterapia ou quimio-radioterapia. 

Após os tratamentos será mantida vigilância clínica regular (em consulta) durante vários anos. É importante estar alerta para eventuais sinais ou sintomas de recorrência, como hemorragia vaginal, corrimento alterado com cheiro fétido ou dor pélvica. Deverá procurar o seu médico sempre que tiver alguma destas queixas. 

Prevenção / Recomendações

São medidas de prevenção as seguintes:

  • Vacinação contra o HPV
    • É altamente eficaz na prevenção do cancro do colo do útero e previne o aparecimento de outros cancros relacionados com o HPV.  
    • Em Portugal recomenda-se atualmente a vacinação incluída no Plano Nacional de Vacinação, de raparigas aos 9 anos e rapazes aos 10 anos de idade, que protege contra 9 subtipos do HPV incluindo o 16 e 18.
    • Mesmo se não realizou a vacina nestas idades, está recomendado fazê-la! A vacina também confere proteção contra a re-infeção e reativação do vírus. Fale com o seu médico para aconselhamento e prescrição.
  • Rastreio do CCU
  • O objetivo do rastreio é detetar lesões pré-malignas de cancro do colo. 
  • Pode ser realizado com a citologia cervical (3 em 3 anos) ou com o teste de deteção do HPV (5 em 5 anos), sendo que o intervalo de tempo entre os testes poderá ser mais curto em pessoas com fatores de risco importantes como infeção por HIV.
  • Em Portugal, atualmente o rastreio organizado é realizado a todas as mulheres entre os 25 e os 60 anos. Nos últimos anos, a evidência científica tem mostrado que o rastreio primário com teste de deteção do HPV tem maior sensibilidade do que a citologia cervical. 
  • Não fumar/ Parar de fumar
  • Sexo seguro
    • Utilização de preservativo desde o início da relação sexual (uma vez que o HPV, para além da transmissão por fluidos sexuais, também se transmite através do contacto entre as mucosas);
    • redução do número de parceiros sexuais.

Saber Mais

Cancro Ginecológico – Considerações Gerais e Prevenção

Rastreio do Cancro do Colo do útero

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