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Introdução

As dermatoses vulvares são doenças inflamatórias crónicas, que se manifestam frequentemente por comichão e dor vulvar; podendo atingir pele de outras regiões do corpo. Os sintomas são normalmente crónicos afetando negativamente o bem-estar e a função sexual.

As mais frequentes incluem o líquen simples crónico, escleroso e líquen plano. 

Frequência

A frequência exata não é conhecida porque estas doenças são muitas vezes sub-diagnosticadas (muitas vezes por vergonha da doente em falar sobre as queixas). No entanto, estima-se que cerca de 10 a 35, em cada 100 doentes que procuram a consulta de patologia da vulva, tenham como causa o Líquen Simples Crónico, sendo essa a principal causa de comichão na zona da vulva; o Líquen Escleroso afeta cerca de 1 em cada 80 mulheres, após os 80 anos; enquanto o Líquen Plano atinge menos de 1 em cada 100 mulheres, sendo mais frequente na mulher adulta. 

Causa

A causa exata destas doenças ainda não está esclarecida, no entanto pensa-se que uma reação mediada pelo sistema imunitário ou fatores genéticos possam estar na sua origem.

Não são doenças contagiosas e, como tal, não podem ser transmitidas por contacto sexual.

Sinais e sintomas

Os três tipos mais frequentes de dermatoses vulvares e os seus sintomas são: 

Líquen simples crónico: patologia da pele que se manifesta por comichão intensa, o que resulta num ciclo crónico de prurido (comichão) – manipulação (coçar) - prurido. Isto vai causar um espessamento da pele da vulva, que se apresenta com aspeto descamativo, escurecido ou avermelhado devido aos arranhões repetitivos. Estes sintomas podem também manifestar-se noutras partes do corpo, como por exemplo, no pescoço. Esta patologia frequentemente afeta pessoas com histórico de alergias (asma, rinite alérgica, entre outros).

Líquen escleroso: doença crónica da pele que apesar de poder atingir outras zonas do corpo (costas, área da cintura e sob os seios), afeta mais frequentemente a vulva. Surge sobretudo após a menopausa ou em meninas antes da puberdade. Os sintomas incluem comichão intensa, podendo haver também queixas de dor vulvar. A pele da vulva apresenta manchas brancas e áreas arroxeadas, podem ocorrer fissuras que causam sensação de queimadura, dor e ardor ao urinar ou durante a atividade sexual. 

Se não for tratado precocemente, o líquen escleroso leva ao desenvolvimento de cicatrizes com alteração da anatomia da vulva, nomeadamente redução e desaparecimento dos pequenos lábios e estreitamento do orifício vaginal. 

Apesar de 30 em cada 100 mulheres serem assintomáticas, a maioria apresenta sintomas recorrentes ao longo da vida.

Líquen plano: é uma doença inflamatória que pode levar ao desenvolvimento de feridas em zonas como a boca, vagina e vulva. Os sintomas incluem desenvolvimento de placas e feridas avermelhadas na parte interna da vulva, causando dor e ardor na vagina e vulva. Pode também ocorrer sensação de comichão na vulva. Ocasionalmente pode acontecer perda de sangue pela vagina, sobretudo durante a atividade sexual, ou corrimento vaginal espesso com aspeto amarelado.

Se não for tratado leva ao desenvolvimento de cicatrizes com alterações da estrutura da vagina e da vulva, podendo mesmo causar a oclusão do orifício da vagina. 

O que fazer

Perante queixas como comichão na zona da vulva, e desde que não haja lesões visíveis, devem ser iniciadas medidas gerais, que poderão ser suficientes para a melhoria dos sintomas.

As medidas gerais incluem: 

  • Evitar coçar a área afetada.
  • Evitar produtos que podem irritar a vulva (sabão, sabonetes, produtos perfumados).
  • Realizar lavagens da zona genital apenas com água, nomeadamente após urinar.
  • Manter a região genital seca após lavagens.
  • Usar hidratantes vulvares, com pH ácido (<7), sem conservantes nem perfume.
  • Usar lubrificação adequada (com lubrificantes não perfumados) durante a atividade sexual.
  • Durante o período menstrual, recomenda-se o uso de pensos higiénicos 100% algodão, não perfumados.

Na ausência de melhoria das queixas com medidas gerais ou caso apresente lesões na zona da vulva ou vagina (como feridas ou fissuras) deve contactar o seu médico.

Tratamento

Quando as medidas gerais não são suficientes, doenças específicas devem ser investigadas como causa dos sintomas.

Para estabelecer o diagnóstico, por vezes, um simples exame ginecológico é suficiente. Uma das causas das queixas pode ser infeção (nomeadamente por fungo), que é tratada com agentes específicos (como por-exemplo o anti-fúngicos tópicos ou em comprimidos).

No entanto, em algumas situações poderá ser necessária a colheita de pequena quantidade de pele da vulva (biópsia) para avaliação mais adequada. Este é um procedimento simples que pode ser feito no consultório médico, com anestesia local.

O líquen simples crónico é habitualmente diagnosticado apenas com exame ginecológico. Quando as medidas gerais para interromper o ciclo – comichão-coçar-comichão não são suficientes, o seu médico pode prescrever medicação anti-alérgica (em comprimidos) e aplicação de corticóides em pomada, por um curto período de tempo, até a melhoria das queixas. Posteriormente, o seu médico irá reduzir a frequência de aplicação de corticóides, até parar o tratamento. Trata-se de uma doença com períodos de melhoria e períodos de agravamento. É importante evitar situações e agentes que desencadeiem as queixas e recorrer ao médico sempre que estas surjam, para tratamento precoce.

Tanto o líquen escleroso como o líquen plano são doenças crónicas que não têm cura e necessitam de tratamento contínuo. No entanto, o tratamento permite evitar a progressão da doença, controlar os sintomas e, como tal, melhorar a qualidade de vida.

Estas doenças provocam alterações da anatomia da vulva e estão associadas a ligeiro aumento do risco de cancro da vulva (que afeta menos de 4 em cada 100 doentes), por isso, em todos os casos (mesmo assintomáticos) é importante uma vigilância médica contínua. 

Em ambas as doenças, a terapêutica inclui corticóides tópicos com o objetivo de controlar a inflamação e evitar a evolução da doença. Numa fase inicial a aplicação diária (1 a 2 vezes por dia) é necessária com progressiva redução no número de aplicações. No entanto, após o controlo dos sintomas a terapêutica deve ser mantida com aplicação do medicamento em pomada 1 a 2 vezes por semana. A aplicação contínua permite controlar os sintomas e reduz o risco de a doença evoluir para cancro.

Nas situações em que a doença não fica controlada com os corticóides em pomada, pode haver necessidade de injeções de corticóides a nível da vulva ou outra medicação por via oral (em comprimidos).

Em raras situações, pode haver necessidade de realizar cirurgia, como quando a distorção da anatomia da vagina e/ou da vulva impede a atividade sexual com penetração ou interfere com a capacidade de urinar. A cirurgia também pode estar indicada para remover tumores suspeitos.

Mesmo após a doença estar controlada, nos casos de Líquen Escleroso e Líquen Plano é importante manter uma vigilância médica regular. Se observar alguma alteração de novo na vulva, como surgimento de feridas, deve contactar o seu médico.

Evolução / Prognóstico

Líquen simples crónico – as queixas costumam melhorar com a terapêutica, mas frequentemente surgem novamente após algum tempo. Reconhecer os sintomas e contactar o médico é importante, para começar cedo o tratamento. Não necessita de uma vigilância regular nem está associado a risco de cancro. 

Líquen escleroso e líquen plano - Doenças que acabam por distorcer a anatomia da vulva se não forem diagnosticadas e tratadas cedo. São doenças crónicas com necessidade de terapêutica mantida, nomeadamente aplicação semanal de corticóide em pomada.  A vigilância médica (preferencialmente anual na doença controlada) é importante visto que estão associadas a um pequeno risco de evolução para cancro (que surge em cerca de 4 em cada 100 mulheres).

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