Epilepsia e Gravidez
Introdução
A epilepsia é uma condição neurológica caracterizada pela ocorrência de crises convulsivas recorrentes. Na maioria dos casos as mulheres com epilepsia têm bebés saudáveis. No entanto, a existência de crises durante a gravidez e puerpério pode culminarem complicações graves, maternas e fetais, pelo que são necessários cuidados especiais para minimizar riscos. Por esse motivo, a gravidez numa mulher com epilepsia é considerada de alto risco.
Epidemiologia
Em Portugal, cerca de 0,3-0,7% das grávidas têm epilepsia. A prevalência desta condição varia, sendo influenciada por fatores genéticos e ambientais.
Causa
As crises convulsivas resultam de descargas elétricas cerebrais que ocorrem de forma súbita e imprevisível. Podem estar relacionadas com fatores genéticos, infeciosos, autoimunes, metabólicos, traumatismos cranianos, etc.
[AIPM1]Explicar de forma mais clara qual a importância da epilepsia na gravidez
Sinais e sintomas
As crises epilépticas podem variar em tipo e gravidade. A crise típica ou "convulsão" manifesta-se muitas vezes sob a forma de uma crise tónica-clónica generalizada, que consiste em movimentos tipo espasmo repetitivos e involuntários dos vários segmentos do corpo.
Durante a crise convulsiva, há uma diminuição do oxigénio que chega ao feto, o que pode causar alterações da frequência cardíaca fetal. Crises frequentes ou graves associam-se a um risco aumentado de:
- Aborto espontâneo,
- Parto prematuro,
- Problemas no desenvolvimento do bebé,
- Baixo peso ao nascimento,
- Doenças hipertensivas,
- Traumatismo materno/fetal,
- Descolamento placentar,
- Morte perinatal.
- Morte materna (10 vezes maior em mulheres com epilepsia do que na população em geral).
Portanto, é essencial não abandonar a medicação durante a gravidez.
Os fármacos usados para o tratamento da epilepsia também podem ter implicações na gravidez. Sabe-se que nem todos os fármacos são adequados durante a gravidez. No entanto, o risco para o feto associado a uma convulsão pode ser maior do que o risco do próprio fármaco. Assim, é fundamental que haja uma avaliação médica precoce no sentido de ajustar a medicação, escolhendo fármacos seguros para o feto, mas que também permitam evitar a ocorrência de crises convulsivas, dadas as potenciais complicações que daí podem advir.
O que fazer
Antes de engravidar: consulta de avaliação preconcecional para perceber características da doença, evolução e medicação. Não deve parar nenhum medicamento (nem o seu método contracetivo) sem falar antes com o seu médico, porque pode comprometer o controlo da sua doença e aumentar o risco de complicações.
Durante a gravidez: consultas regulares (Medicina Materno-Fetal e Neurologia), em que podem ser pedidos exames adicionais, como ecografias para excluir malformações e análises para controlar os níveis dos fármacos antiepiléticos.
Tratamento
Na consulta pré-concecional (antes de engravidar): o médico vai avaliar a controlo da doença e ainda ajustar a medicação que faz, de forma a prevenir a ocorrência de crises convulsivas.
A gravidez só estará aconselhada quando a doença estiver estabilizada (sem crises durante pelo menos 6 meses) e com os fármacos otimizados (de preferência, aqueles com menor risco para o feto).
É preferível fazer os ajustes dos fármacos antes da gravidez do que durante a gravidez!
Todas as mulheres que façam medicamentos para a epilepsia devem tomar ácido fólico (dose recomendada: 4mg por dia, via oral). Idealmente devem começar 3 meses antes de engravidarem e depois manter durante toda a gravidez. O ácido fólico ajudará a prevenir malformações do sistema nervoso central do feto.
Outras medidas gerais de estilo de vida importantes, que deverão continuar durante a gravidez, incluem: dieta saudável, hábitos de sono adequados e evicção de cafeína, tabaco, álcool e drogas.
Alguns medicamentos usados para tratamento da epilepsia estão associados a malformações. Por isso, é essencial um ajuste precoce da medicação, em caso de gravidez. No entanto, não está aconselhado parar ou alterar um medicamento sem indicação médica durante a gravidez. Tal como referido previamente, este comportamento pode provocar agravamento das convulsões e pode pôr em risco a vida da mãe e do bebé. Os riscos e benefícios de cada medicação devem ser discutidos na consulta. Portanto, se engravidar durante a toma de um fármaco antiepilético, deve continuar a tomá-lo e marcar consulta com o médico assistente o mais rapidamente possível.
Deverá comunicar ao seu médico sempre que tiver uma convulsão, pois tal poderá ser indicativo da necessidade de ajustar a medicação.
Durante o parto, a toma dos fármacos deve ser mantida. Na maioria dos casos é possível um parto vaginal, estando a cesariana indicada em situações particulares. Não há qualquer limitação na escolha das opções para alívio da dor (opções de analgesia), nomeadamente a epidural. É importante minimizar os fatores precipitantes de crises, sendo fundamental desde logo garantir uma analgesia e hidratação adequada durante o parto.
No puerpério, o risco de crises é superior ao da gravidez. A dose dos fármacos pode ser diminuída progressivamente, mantendo-se geralmente uma dose igual ou ligeiramente superior à realizada previamente à gravidez. As mulheres com epilepsia podem amamentar. Os fármacos podem ser detetáveis no leite materno, mas geralmente os benefícios superam os riscos.
A medicação antiepilética pode afetar a eficácia dos contracetivos orais (pílula), sendo importante discutir a melhor opção.
A epilepsia na gravidez apresenta vários desafios, mas com o acompanhamento médico especializado é possível ter uma gravidez bem-sucedida. A chave passará por evitar crises, pela escolha cuidadosa dos medicamentos e por um estilo de vida saudável.
Evolução / Prognóstico
Por norma, quanto maior o tempo livre de crises antes de engravidar, menos provável é a ocorrência de crises na gravidez.
Habitualmente a frequência das crises mantém-se igual, mas pode ocorrer agravamento em até 37% dos casos. A principal causa de exacerbações é o abandono da medicação!
A maioria das grávidas terá um recém-nascido saudável.
Prevenção / Recomendações
Para prevenir crises:
- Manter um estilo de vida saudável, evitando o stress, desidratação, privação de sono, ansiedade, consumo de álcool/tabaco e estímulos intensos.
- Não abandonar a medicação antiepilética.
- Suporte emocional pode ajudar a reduzir a ansiedade e o stress
Medidas de segurança para o puerpério:
- Ponderar retirar leite durante o dia e guardar (melhora o descanso noturno);
- Evitar dar banho ao bebé se sozinhas em casa;
- Evitar transportar o bebé ao colo - preferir berço com rodas;
- Colocar o “muda-fraldas” ao nível do chão;
- Amamentar no centro da cama (evitar cadeirão).
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