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Introdução

Os miomas uterinos consistem em formações de tecido muscular do útero e são o tumor ou neoplasia benigna mais frequente nas mulheres em idade reprodutiva. Por seu lado, a infertilidade consiste na ausência de gravidez após um ano de relações sexuais desprotegidas.

Este artigo pretende abordar a sintomatologia, exames complementares e tratamentos dos miomas uterinos em contexto de infertilidade

(Nota: Os artigos “Avaliação do casal com infertilidade” e “Miomas uterinos” contêm informação complementar sobre cada um dos temas.)

Frequência

Apesar de os miomas uterinos serem muito frequentes, em apenas 2 a 3% dos casos de infertilidade os miomas são a única causa de infertilidade identificada. 

Causa

O efeito dos miomas uterinos na fertilidade natural da mulher não é completamente conhecido e está em estudo. 

Sinais e sintomas

Os miomas frequentemente não dão sintomas e são diagnosticados em ecografias ginecológicas de rotina. Quando têm manifestações, podem causar hemorragias abundantes durante a menstruação e/ou hemorragias fora do período menstrual; dor pélvica, alterações na frequência ou vontade de urinar, alterações do trânsito gastrointestinal, dificuldade em engravidar e até impacto negativo em gravidez. 

O que fazer

Num casal que está a tentar engravidar há mais de 12 meses consecutivos, é importante recorrer a consulta médica com médico assistente para ser realizada uma avaliação inicial. Se necessário, o casal poderá ser referenciado a unidade de Medicina de Reprodução, onde poderão ser realizados estudos adicionais e propostos planos terapêuticos adequados a cada situação. 

Neste processo, é realizada avaliação clínica do casal com recurso a várias questões sobre sintomas associados, problemas de saúde prévios, história de cirurgias anteriores, doenças infeciosas, hábitos tabágicos, alcoólicos ou de consumo de substâncias ilícitas, história ginecológica, atualização do rastreio do cancro do colo do útero, história familiar de doenças conhecidas, entre outras questões. É também feita medição do peso e altura, tensão arterial e avaliação ginecológica completa. Por fim, o estudo do casal é complementado com vários exames de diagnóstico. 

A ecografia ginecológica endovaginal é o meio de diagnóstico de miomas uterinos mais frequentemente usado e permite o diagnóstico e caracterização dos miomas com bastante fiabilidade. Há vários fatores que influenciam o impacto dos miomas na fertilidade e nos sintomas que podem estar associados. São características importantes a avaliar na ecografia o número total e o tipo de miomas, nomeadamente a sua localização, o seu tamanho, o seu contacto com a cavidade uterina, a sua relação com os órgãos vizinhos, entre outros achados. 

De acordo com esta avaliação, é possível avaliar a necessidade de exames adicionais e delinear o plano terapêutico subsequente. Os exames complementares de diagnóstico que podem estar indicados neste contexto, para além da ecografia, ginecológica incluem: a histerossonografia, em que durante a ecografia se insere uma pequena quantidade de soro fisiológico na cavidade uterina para avaliar a presença e extensão dos miomas; a histeroscopia diagnóstica, que permite a visualização direta da cavidade uterina e dos miomas; e a ressonância magnética, que pode ser útil em circunstâncias específicas. 

Tratamento

Nesta secção, a abordagem terapêutica dos miomas uterinos será direcionada para o contexto da infertilidade. 

 

Tratamento Médico

As opções de tratamento médico de miomas em mulheres que pretendem engravidar são limitadas. As medicações usadas neste contexto podem ser tomadas transitoriamente, por exemplo, meses antes de futura cirurgia e com o objetivo de melhorar os resultados da cirurgia. 

Recentemente foram desenvolvidas novas opções medicamentosas que reduzem o volume e sintomas dos miomas uterinos, mas o efeito na fertilidade futura da mulher ainda se encontra em estudo. Apesar disso, após ponderação dos benefícios e desvantagens, podem ser uma opção em mulheres com desejo de gravidez futura. 

Tratamento Cirúrgico

A miomectomia é uma cirurgia que consiste em remover o(s) mioma(s) do útero e, neste contexto, tem como objetivo aumentar a probabilidade de gravidez após esta intervenção. 

Esta opção de tratamento deve ser ponderada e discutida caso a caso, com oportunidade para a doente ser informada dos riscos e benefícios e envolvida no processo de decisão.

Miomas submucosos

Os miomas submucosos são miomas que se localizam total ou parcialmente dentro da cavidade uterina e a sua remoção é benéfica em casos de infertilidade. 

A miomectomia de miomas submucosos é realizada com recurso a ressectoscópio que consiste num instrumento que, por via vaginal, permite o acesso à cavidade uterina e remoção de todo o mioma. Dependendo da dimensão e extensão do mioma, pode ser necessário mais do que uma intervenção para a sua remoção completa. 

Este procedimento é realizado com anestesia, é bem tolerado e tem reduzida taxas de complicações. 

Dependendo das situações, em regra pode ser tentada gravidez cerca de 3 meses após a intervenção. 

Miomas intramurais

Os miomas intramurais têm contacto com a cavidade uterina, mas não a ocupam nem deformam. Nestes casos, é menos evidente que haja benefício da cirurgia, pelo que esta deve ser ponderada caso a caso. 

A cirurgia pode ser feita por via aberta, sendo nestes casos realizada uma incisão no abdómen, ou por via laparoscópica em que são colocados instrumentos através de pequenas incisões no abdómen e, de forma menos invasiva, se realiza a excisão do mioma. A escolha da via da cirurgia está dependente de vários fatores como o número total de miomas, a sua localização, antecedentes de cirurgias anteriores, entre outros.  

Miomas subserosos

Os miomas subserosos são miomas que não contactam com a cavidade uterina e se localizam nas porções mais externas do útero. 

Não parece haver benefício em realizar cirurgia na maior parte destes casos. No entanto, cada caso deve ser individualizado e, atendendo aos sintomas, à qualidade de vida, ao tamanho e à localização do mioma, a miomectomia pode ser uma opção válida. 

Existem outras opções terapêuticas propostas como os ultrassons de elevada frequência e a ablação por radiofrequência que, de forma minimamente invasiva, ajudam a reduzir e até eliminar o mioma. Estas técnicas não estão completamente disponíveis na prática clínica e estão ainda em estudo quanto à fertilidade posterior. 

A embolização das artérias uterinas é, por vezes, proposta como alternativa a cirurgia, mas não é recomendada em mulheres que pretendam engravidar posteriormente. 

Evolução / Prognóstico

Pode ser possível engravidar de forma espontânea após o tratamento dos miomas. Alternativamente, em casais que estejam em processo de tratamentos de procriação medicamente assistida, os ciclos programados poderão decorrer após o tratamento dos miomas. 

O prognóstico destas situações está em maior parte dependente da idade da mulher, do número total, do tamanho e da localização dos miomas. Cada caso deve ser avaliado individualmente, com ponderação dos riscos e dos benefícios dos tratamentos e das expectativas de futura gravidez. 

Prevenção / Recomendações

A infertilidade é um problema crescente nas sociedades atuais. Com o avançar da idade da mulher sabe-se que a fertilidade natural diminui e, ao mesmo tempo, a probabilidade de se identificarem miomas uterinos aumenta. Contudo, é difícil estabelecer uma relação causal entre a presença de miomas e a infertilidade.  

Na prevenção destas situações, é útil adotar de um estilo de vida saudável e, na medida possível, evitar o adiamento de gravidez até fases tardias da vida da mulher uma vez que, com o avançar da idade, há redução da fertilidade natural da mulher e aumento da probabilidade de desenvolvimento ou agravamento de miomas uterinos. O tratamento dos miomas é possível e pode aumentar as possibilidades de gravidez, devendo ser realizada avaliação e orientação individualizada. 

Saber Mais

“Miomas uterinos”

“Avaliação do casal com infertilidade”

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