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Introdução

A perda gestacional, ou aborto, ocorre quando uma gravidez termina naturalmente antes das 24 semanas de gestação, período em que o bebé ainda não é capaz de sobreviver fora do útero. 

A perda gestacional recorrente geralmente define-se pela ocorrência de pelo menos duas perdas gestacionais. 

Frequência

A perda gestacional recorrente ocorre em cerca de 1% das mulheres.

Causa

Existem diversos fatores que podem aumentar a probabilidade da perda gestacional recorrente:

  • Fatores genéticos:

A causa mais comum de perda gestacional são alterações nos cromossomas do embrião ou do feto. Isso acontece em cerca de metade dos casos, mesmo quando os pais têm cromossomas normais. É mais comum quando os pais são mais velhos. Se um dos pais tiver uma alteração nos cromossomas, também pode levar a uma perda fetal.

  • Idade:

Quanto mais velha a pessoa, maior o risco de perda gestacional. Isso acontece porque a qualidade dos óvulos diminui. Se o pai tiver mais de 40 anos, o risco também é maior.

  • Estilo de vida:

Ter excesso de peso (índice de massa corporal superior a 25) ou baixo peso (índice de massa corporal inferior a 19) pode aumentar o risco de perda gestacional. Fumar, beber maior quantidade de álcool ou cafeína também aumenta o risco.

  • Problemas de sangue:

O Síndrome Antifosfolípido é uma doença que aumenta o risco de aborto, além de aumentar o risco de formação de coágulos sanguíneos. Existem outros problemas hereditários da coagulação sanguínea (trombofilias hereditárias), mas eles não devem ser estudados, pois não existe evidência clara que possam causar perdas gestacionais recorrentes.

  • Anomalias na forma do útero:

Algumas mulheres têm um útero com formato diferente, o que pode aumentar o risco de aborto, nomeadamente o útero septado ou bicórneo. Fibromas ou cicatrizes dentro do útero também podem ter influência, dependendo do seu tamanho e posição.

  • Problemas hormonais:

Ter diabetes não controlada, problemas na tiróide, síndrome dos ovários poliquísticos ou desequilíbrios da prolactina pode aumentar o risco de perda gestacional.

  • Fatores imunológicos:

Tem sido sugerido que algumas mulheres têm perdas gestacionais porque o seu sistema imunitário não responde normalmente à gravidez. Atualmente, não existe evidência clara para apoiar esta teoria, sendo necessária mais investigação. 

  • Anomalias do esperma:

Se o parceiro tiver problemas no DNA do esperma, pode haver maior risco de perda gestacional. Contudo, não sabemos, por enquanto, se tratar o esperma pode reduzir esse risco.

O que fazer

É importante procurar uma causa tratável para a perda gestacional recorrente, para assim receber o apoio e tratamento adequados. Deve falar com um médico para ser encaminhada a exames mais detalhados num hospital ou clínica especializada. Se possível, o casal deve ser examinado em conjunto.

Exames de sangue:

  • Estudo do Síndrome antifosfolípido;
  • Estudo da Tiróide, incluindo anticorpos da tiróide;
  • Estudo da Diabetes: principalmente se a sua história médica sugira riscos.

O seu médico pode pedir mais exames se suspeitar de outros problemas hormonais, como a síndrome dos ovários poliquísticos ou desequilíbrios da prolactina.

  • Testes Genéticos:

Após a segunda perda gestacional, devem ser estudados (se possível) os tecidos/restos da gravidez para avaliar eventuais alterações nos cromossomas. Se forem encontrados problemas nos cromossomas ou se não houver tecido para análise, os pais podem fazer estudo genético com um teste chamado cariótipo. 

  • Ecografia Pélvica:

Uma ecografia pélvica 2D é recomendada para avaliar a forma do útero. Se houver suspeita de uma forma anormal do útero, exames adicionais podem ser necessários para investigar melhor, nomeadamente a histerossonografia, histerossalpingografia ou ecografia pélvica 3D.

Tratamento

Estilo de vida e doenças crónicas:

O seu médico irá aconselhá-la sobre como manter um peso adequado e pode também apoiá-la para deixar de fumar. Recomenda-se limitar a ingestão de cafeína a menos de 200 mg diários (equivalente a cerca de duas chávenas de chá ou café instantâneo) e evitar o consumo frequente ou excessivo de álcool. É também importante um bom controlo de doenças como a diabetes ou problemas da tiroide antes de uma nova tentativa de gravidez. 

Síndrome antifosfolípido:

O tratamento pode incluir aspirina em doses baixas e injeções de anticoagulantes (como a heparina) durante a gravidez. Este tratamento ajuda a prevenir a coagulação do sangue.

Trombofilias hereditárias: 

Não há evidência que o tratamento padrão para trombofilia hereditária melhore as hipóteses de uma gravidez bem-sucedida. Assim, o tratamento com aspirina ou heparina não estão recomendados.

Aconselhamento genético:

Se você ou o seu parceiro tiverem uma alteração genética, deverá ser oferecida uma consulta de aconselhamento genético. O médico irá informá-lo sobre as probabilidades de futuras perdas gestacionais e as opções disponíveis, considerando a sua situação particular.

Alteração morfológica no útero:

Em casos de útero septado, pode ser sugerida uma correção cirúrgica. A eficácia da cirurgia para tratar fibromas ou outras anomalias que afetem a forma interna do útero ainda não é clara. Os potenciais benefícios e riscos da cirurgia uterina devem ser discutidos com o seu médico, levando em conta a sua situação específica (por exemplo, o tamanho e a localização de um fibroma).

Hemorragia vaginal precoce:

Não há evidências que o tratamento com progesterona previna novas perdas gestacionais, a não ser em casos de sangramento no início da gravidez. Se já teve aborto espontâneo e está com sangramento durante a gravidez atual, a progesterona poderá ser oferecida para tentar evitar oura perda.

Evolução / Prognóstico

A probabilidade de sofrer outra perda gestacional varia e depende de vários aspetos: número de vezes que já ocorreu uma perda; idade dos pais; resultados dos exames médicos.

Muitas vezes, não se descobre a razão para a perda gestacional recorrente. Nesses casos, ainda não há provas de tratamentos médicos que diminuam a probabilidade de outro aborto.

As hipóteses de uma próxima gravidez bem-sucedida dependem da situação pessoal, mas em geral são boas, mesmo sem alterar o tratamento.

Prevenção / Recomendações

Passar pela perda gestacional recorrente pode ser muito difícil, tanto fisicamente quanto emocionalmente. O casal deve procurar informação e apoio dos profissionais de saúde.

É comum sentir ansiedade, depressão ou stress pós-traumático após perder uma gravidez, por isso, pode ser útil falar sobre a sua saúde mental com o médico, que pode orientar para apoios e tratamentos adicionais.

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