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Introdução

A infertilidade é uma doença caracterizada pela incapacidade de engravidar após 12 meses de relações sexuais regulares e desprotegidas ou pela diminuição da capacidade de reprodução individual ou com o parceiro.

O estilo de vida diz respeito aos hábitos e modos de vida, tais como é o caso do índice de massa corporal, a dieta, o exercício físico e o hábito de fumar ou beber álcool, que se podem alterar e que podem influenciar a saúde geral e o bem-estar, incluindo a fertilidade.

É importante transmitir que os estudos sobre este tema não são fortes o suficiente para haver certeza do efeito dos estilos de vida, como o índice de massa corporal, stress ou consumo de álcool, tabaco e cafeína, na fertilidade. 

O que fazer

Dieta

Em casais saudáveis, os estudos não recomendam mudanças na dieta para melhorar a fertilidade. E é importante saber que os alimentos não têm capacidade de prejudicar ou promover a fertilidade. Por outro lado, o que escolhemos comer e o volume das refeições podem influenciar a quantidade e deposição da gordura corporal, levando a alterações no organismo que podem afetar a possibilidade de engravidar.

Desta forma, alguns estudos mostram que, na mulher há fatores importantes para manter um normal funcionamento dos ovários, tais como comer fibras vegetais provenientes de produtos como aveia, feijão, ervilha, lentilha, grãos, sementes, frutas e legumes, pão integral, arroz integral e massa integral; consumir diariamente pelo menos cinco peças de fruta e legumes; limitar o consumo de gordura, alimentos fritos, bebidas com açúcar,  doces e álcool; e controlar o tamanho e a frequência das refeições e lanches.

Da mesma forma, os hábitos dietéticos anteriormente referidos também estão relacionados com uma melhoria da qualidade do esperma no homem. Apesar de não existirem estudos fortes acerca deste tema, este tipo de dieta faz parte de um estilo de vida saudável, pelo que deve ser adotada de forma geral.

Peso e índice de massa corporal

Apesar da fraca qualidade dos estudos existentes, tanto o excesso de peso (índice de massa corporal (IMC) ≥ 25 kg/m2) como a obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) têm sido associados à diminuição da fertilidade, e consequente dificuldade em engravidar. O índice de massa corporal é calculado dividindo o peso (em quilogramas) pela altura ao quadrado (em metros), de acordo com a seguinte fórmula: IMC = peso ÷ (altura x altura).

Nas mulheres, um IMC mais alto tem sido associado à presença de ciclos menstruais irregulares ou até mesmo falta de menstruação, menor qualidade e quantidade de óvulos (células reprodutivas da mulher que se unem aos espermatozóides para dar origem a uma nova vida), maior tempo para conseguir engravidar e necessidade de maiores doses de medicação para estimular a ovulação (libertação de um óvulo pelo ovário, para que se possa unir ao espermatozóide).

As mulheres obesas também têm um alto risco de abortos espontâneos (interrupção da gravidez numa fase em que ainda não é possível que o embrião/feto sobreviva fora do útero), morte materna, tensão alta na gravidez, diabetes na gravidez, infeções urinárias, parto prematuro (antes do bebé ter 37 semanas), morte fetal, hemorragia pós-parto e muitas outras complicações durante a gravidez e puerpério (período que decorre entre o nascimento e as 6 semanas após o parto). 

Nos homens, embora mais controverso, um IMC mais alto tem sido associado à diminuição da produção e da qualidade do esperma. 

Por outro lado, também o baixo peso tem consequências na fertilidade já que na mulher pode levar a falta de menstruação e no homem também é capaz de afetar a qualidade do esperma.

Exercício

Apesar de serem bem conhecidos os efeitos benéficos do exercício físico na composição corporal, redução de doenças crónicas e até na saúde psicológica, a relação entre fertilidade e atividade física não é clara.

Parece que, em mulheres com peso normal, o exercício físico intenso pode ter efeitos negativos na fertilidade, porque pode levar a ciclos menstruais irregulares e a falta de menstruação. Nas mulheres com excesso de peso ou obesidade, o exercício físico em qualquer nível de intensidade parece ter um efeito positivo na fertilidade, promovendo ciclos menstruais regulares.

No homem, alguns estudos mostram que o exercício físico pode ser bom para a qualidade do esperma. Contudo, o exercício físico muito intenso, assim como alguns tipos de exercício (como por exemplo o ciclismo), podem ter um efeito negativo, ao diminuírem a qualidade do esperma.

Também o uso de esteróides para melhorar o desempenho no desporto, pode levar a infertilidade por afetar o sistema nervoso central e, consequentemente, a produção e libertação das hormonas sexuais.

Tabaco

O uso de tabaco é responsável por cerca de 13% dos casos de infertilidade e alguns estudos sugerem que a fertilidade pode voltar ao normal um ano após deixar de fumar. 

O tabaco pode causar infertilidade na mulher ao provocar alterações nas trompas e colo do útero, maior frequência de ciclos menstruais irregulares, aumento da probabilidade de abortos espontâneos e gravidez ectópica (gravidez que ocorre fora do útero), e diminuição da quantidade de óvulos no ovário. As mulheres fumadoras apresentam também uma menor probabilidade de engravidar mesmo se forem ajudadas por tratamentos de fertilidade. 

Nos homens fumadores foram descritas alterações da qualidade do esperma relacionadas com a quantidade de cigarros fumados, como diminuição do volume do esperma, diminuição da quantidade de espermatozoides no esperma, espermatozoides menos móveis e com formas anormais, bem como alterações a nível das hormonas sexuais e risco de aumento de espermatozoides com alterações no material genético (fragmentação do DNA). A integridade do material genético dos espermatozoides é muito importante para o desenvolvimento de um embrião (estágio inicial do desenvolvimento de um bebé) saudável. Os altos níveis de fragmentação do DNA do esperma estão associados a maior dificuldade na obtenção de uma gravidez, tanto de forma natural quanto com ajuda de tratamentos de fertilidade, e também a maior risco de abortos e deficiências no bebé. 

Também o uso de cigarros eletrónicos pode levar a uma redução da contagem dos espermatozoides, mas mais estudos são necessários.

Álcool

O consumo regrado de álcool (menos de 2 bebidas por dia) não parece afetar a fertilidade. No entanto, a maioria dos estudos mostra que as mulheres que consomem álcool de forma moderada a pesada tendem a ter mais dificuldade em engravidar. 

No homem, o consumo de álcool pode reduzir a contagem normal de espermatozoides e causar alterações do material genético. O consumo de álcool agudo ou moderado (menos de 5 bebidas por semana) parece não afetar a qualidade do esperma e até pode melhorar os resultados dos tratamentos de fertilidade. Já o consumo contínuo e pesado (mais de 20 a 25 bebidas por semana) afeta a produção e a qualidade dos espermatozoides. Além disso, está relacionado com a ocorrência de impotência sexual (incapacidade do homem em iniciar ou manter uma ereção).

Drogas e/ou medicamentos

Na mulher, o consumo de canábis pode alterar a função dos ovários e do ciclo menstrual, pode impedir que o zigoto (primeira célula que se forma na união entre o ovócito e o espermatozoide) se implante no útero, levar a alterações do desenvolvimento do embrião e a maior probabilidade de aborto. O consumo de cocaína por levar a ciclos menstruais irregulares e até mesmo a falta de menstruação por afetar o sistema nervoso central. O consumo de metanfetamina (também conhecida como cristal) pode levar a diminuição da produção de hormonas no ovário, necessárias ao desenvolvimento dos óvulos. O consumo de heroína leva a falta de menstruação.

No homem, o consumo de drogas, como canábis, narcóticos opioides (tramadol, metadona, morfina, oxicodona, fentanil, entre outros), cocaína, outras metanfetaminas e esteróides pode ter um impacto negativo na fertilidade. Estas drogas afetam o sistema nervoso central e a produção das hormonas sexuais. O consumo de canábis pode causar disfunção erétil, redução do desejo sexual, redução/ausência de esperma e ainda formação de espermatozoides anormais e com menor capacidade de fecundar o óvulo.

O uso de esteróides pode levar à redução ou ausência de espermatozóides no esperma e atrofia dos testículos. Com o uso prolongado também pode ocorrer perda do desejo sexual, disfunção erétil e aumento das mamas no homem.

Cafeína

Na mulher, a maioria dos estudos indicam que o consumo exagerado de café pode aumentar o tempo para alcançar a gravidez e o risco de aborto. De acordo com algumas entidades europeias e americanas, é recomendado que as mulheres que tentam engravidar, consumam apenas 200 mg de café por dia (2 cafés). 

A maioria dos estudos não demonstra uma ligação entre o consumo moderado de café e a fertilidade masculina. Contudo, alguns mostram que o consumo de café através de refrigerantes pode levar a alterações do material genético dos espermatozóides.

Exposições ambientais e ocupacionais

Existem vários compostos químicos que podem interferir no sistema hormonal e ter efeitos negativos no desenvolvimento, reprodução, sistema imunitário e nervoso de um indivíduo e que podem ser encontrados em alguns produtos de uso diário como produtos de beleza, perfumes, produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza, detergentes, utensílios antiaderentes, brinquedos, garrafas de plástico, pesticidas e até mesmo alimentos enlatados.

Estes compostos (ftalatos, bifenilos policlorados, dioxinas, pesticidas e parabenos) podem levar ao desenvolvimento de endometriose e dor nas menstruações, síndrome do ovário poliquístico e alterações da tiróide. Quando absorvidos pelo corpo, podem diminuir ou aumentar os níveis das hormonas naturais do organismo, imitar essas hormonas ou alterar a sua produção. Isto pode acontecer com as hormonas sexuais femininas e masculinas, e levar à diminuição da fertilidade.

 Radiação

A radiação não ionizante pode afetar o organismo através de fontes de radiofrequência, como WiFi, telemóveis, bluetooth, aquecedores por indução, instrumentos dielétricos de alta frequência, antenas de transmissão e radares pulsados de alta potência. 

Os estudos sugerem que a exposição a este tipo de radiação pode diminuir a qualidade do esperma com a redução do volume, concentração, mobilidade e eficiência dos espermatozóides. Os testículos encontram-se fora do abdómen porque precisam de estar a uma temperatura menor que a temperatura do corpo para serem capazes de produzir espermatozóides saudáveis. Este tipo de radiação é mais absorvido pelos testículos do que por qualquer outro órgão, o que leva a um aumento da sua temperatura afetando, consequentemente, a produção de espermatozóides. A absorção desta radiação pelos testículos também pode causar alterações diretas nas células do testículo e diminuição das concentrações de testosterona.

Já na mulher, os estudos não mostraram efeitos negativos das radiações não ionizantes na fertilidade.

A radiação ionizante, comummente utilizada na prática clínica através dos exames radiográficos e uso da radioterapia para o tratamento do cancro, pode afetar gravemente a fertilidade feminina e masculina. A radiação ionizante tem o potencial de danificar as células que originam os óvulos e os espermatozóides de forma irreversível (para sempre), dependendo da intensidade, dose e duração da exposição a esta radiação.

Assim, os casais devem ser aconselhados adequadamente sobre os riscos potenciais da exposição repetitiva à radiação ionizante, bem como das técnicas de preservação da fertilidade disponíveis antes da exposição corporal total ou das gónadas (ovários/testículos) à radioterapia.

Temperatura

O processo de produção de espermatozóides é sensível à temperatura, com uma temperatura ótima de cerca de 2ºC inferior à temperatura corporal. Assim, a exposição a temperaturas elevadas no local de trabalho (como por exemplo na indústria de vidro, fundição e aço, cozinhas e padarias), longas horas na posição sentada, condução regular de longa distância, banhos quentes regulares, roupas íntimas muito apertadas, ciclismo intensivo ou sessões longas de sauna podem provocar infertilidade masculina.

Sono

Em relação à infertilidade masculina, os estudos mostram que hora de dormir tardia, a curta duração do sono e a má qualidade do sono afetam negativamente a qualidade do esperma. 

O sono também afeta vários aspetos da fertilidade feminina. Os estudos mostram que mulheres que têm uma menor duração média de sono (menos de 5 a 6 horas por noite) apresentam um risco aumentado de ciclos menstruais irregulares e menor probabilidade de ocorrência de uma gravidez. Também as interrupções dos ciclos de sono têm impacto na fertilidade feminina, sendo que mulheres que trabalham em turnos noturnos apresentam maior risco de aborto espontâneo.

Stress

No sistema reprodutor feminino e masculino, altos níveis de stress, ansiedade ou depressão podem levar a uma diminuição da produção de hormonas sexuais pelo sistema nervoso central com consequente falta de menstruação e diminuição da qualidade do esperma.

Por si só, o diagnóstico de infertilidade, o sentimento de discriminação social associado à infertilidade e os insucessos frequentes dos tratamentos de fertilidade podem causar níveis de stress elevados. Por outro lado, os casais que estão a realizar tratamentos de fertilidade e têm aconselhamento psicológico podem ter maior probabilidade de conseguir engravidar e ter um filho.

Contraceção

O uso de métodos para prevenir a gravidez, independentemente da duração de utilização e do tipo (exceto a vasectomia e a remoção das trompas), não afetam a probabilidade de engravidar após a sua suspensão e não atrasam a gravidez.

Lubrificantes

Apesar de alguns estudos terem demonstrado que alguns lubrificantes podem levar a que os espermatozóides fiquem menos móveis, tal não está totalmente confirmado. Embora não haja dados convincentes que sugiram que o uso de lubrificantes prejudique a fertilidade, o uso de lubrificantes que não inibem a motilidade do esperma, como óleo mineral, óleo de canola, óleo de mostarda ou lubrificantes com base de hidroxietilcelulose, é mais prudente.

Saber Mais

Tabela 1. Resumo dos efeitos do estilo de vida na fertilidade

 

 

 

Mulher

Homem

Dieta

Alimentação saudável

Contorno de rosto sorridente com preenchimento sólido

Contorno de rosto sorridente com preenchimento sólido

Alimentação não saudável

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Peso e índice de massa corporal

Excesso de peso e obesidade

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Baixo peso

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Exercício

Moderado

Contorno de rosto sorridente com preenchimento sólido

Contorno de rosto sorridente com preenchimento sólido

Vigoroso

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Excesso de peso e obesidade (em qualquer intensidade)

Contorno de rosto sorridente com preenchimento sólido

Contorno de rosto sorridente com preenchimento sólido

Tabaco

 

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Álcool

Consumo regrado de álcool

Sem efeito

Efeito mínimo

Consumo pesado de álcool

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Drogas e/ou medicamentos

Canabinóides, cocaína, metanfetaminas, heroína, opióides e esteróides anabolizantes

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Cafeína

Consumo moderado/elevado

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Sem efeito

Exposições ambientais e ocupacionais

Produtos de beleza, perfumes, produtos de higiene pessoal ou de limpeza, detergentes, brinquedos, garrafas de plástico, pesticidas, alimentos enlatados, etc.

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Radiação

Radiação não ionizante

Sem efeito

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Radiação ionizantes

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Temperatura

Temperatura alta

Sem efeito

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Sono

Má qualidade e duração do sono

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Stress

 

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido

Contraceção

 

Sem efeito

Sem efeito

Lubrificantes

Óleo mineral, óleo de canola, óleo de mostarda ou lubrificantes com base de hidroxietilcelulose.

Sem efeito

Sem efeito

Contorno de rosto triste com preenchimento sólido Afeta negativamente  Contorno de rosto sorridente com preenchimento sólido Afeta positivamente

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